Que seria o mundo sem Cristo?



Depois de tantos benefícios, seria possível que alguém tome posição contra Cristo? Sim, infelizmente. E, não obstante, que seria da humanidade, sem Ele? Escutai uma parábola, de profundo sentido, de Jörgensen, sobre as árvores revolucionárias.

Um esbelto e altaneiro álamo convocou todas as árvores do bosque para um comício.

- lrmãs, disse-lhes, bem sabeis que toda a terra nos pertence, porque de nós dependem os homens e os animais; sem nós não podem viver. Somos nós que alimentamos as vacas, as ovelhas, os pássaros, as abelhas... Nós somos o ponto central, todos vivem de nós, até a nossa terra se vai formando das nossas folhas secas e apodrecidas. Só há no mundo um único poder acima de nós: o Sol. Dizem que dele depende a nossa vida. Mas, minhas irmãs, estou convencido, que isso é uma história indigna duma planta moderna e esclarecida, com as luzes da atual civilização.

- Que não podemos viver sem a luz do sol?

- Isso é uma velha lenda, sem fundamento algum, e cheia de preconceitos.

O álamo fez uma breve pausa, tossiu e... algumas velhas plantas e árvores antigas murmuraram em sinal de desaprovação; as árvores jovens porém, aplaudiram o discurso, inclinando-se profundamente.

- Sei muito bem, continuou o álamo, que entre vós, se desenha um partido contrário, o grupo dos velhos que ainda acredita nos contos de fadas. Mas eu confio nos sentimentos de independência da moderna geração, geração de jovens arrojados, ansiosos de emancipação. É necessário que nós, as plantas, sacudamos o jugo do Sol! Então surgirá uma geração nova, uma geração Iivre. Ânimo, pois! e conquistaremos a independência. E tu, velho carvão das alturas, toma conta, o teu império chega ao fim!

As palavras do álamo perderam-se entre a gritaria e os aplausos vindos de toda a parte. Este entusiasmo juvenil, tão ruidosamente manifestado, abafou os silenciosos protestos de desaprovação das velhas árvores.

- Declaramos greve ao Sol, disse de novo o álamo. Durante o dia suspenderemos todas as funções vitais, e exercê-las-emos durante a noite misteriosa e sombria. Durante a noite cresceremos, floresceremos, exalaremos o nosso perfume e daremos frutos abundantes. -Abaixo o Sol! Seremos livres!

E ficou encerrada a sessão.

No dia seguinte, os homens notaram coisas raras: O Sol brilhava com todo o seu esplendor, seus raios ardentes difundiam-se com toda a força vivificadora sobre a natureza; mas as flores com os pétalas obstinadamente fechadas inclinavam-se sobre a terra; as árvores com suas folhas pendentes sobre a terra voltavam às costas ao sol. Pelo contrário, ao anoitecer, as pétalas fechadas, abriam-se e, pintadas de todas as cores, erguiam suas hastes aos pálidos raios da Iua e à débil Iuz das estrelas. E assim continuaram vários dias. Mas em breve se notaram mudanças curiosas e estranhas na vegetação. O trigo tombara para o chão, porque tinha crescido em direção ao Sol e já não havia Sol para o qual pudesse Ievantar-se. As flores empalideciam, os botões secavam e as folhas amareleciam. Tudo se inclinava sem vida para a terra, como no Outono.

Então as plantas começaram a murmurar e a praguejar contra o álamo; mas o chefe da revolta, ainda que também tivesse as folhas secas e amarelas, compelia-as a continuarem.

- Que tolas sois! Não vedes como agora sois mais belas, mais originais, mais livres, mais independentes, que quando suportáveis o tirânico jugo do Sol? Estais doentes?! Não, isso não é verdade! Sois mais finas, mais nobres! Adquiristes personalidade!

Algumas plantas, as mais tolas, acreditaram no álamo, e com os Iábios cada vez mais amarelos, cada vez mais Iívidos repetiam vaidosas: “Tornamo-nos mais finas, mais nobres, adquirimos personalidade”. Mas a maioria declarou-se a tempo contra a greve e voltaram-se para o sol. Ao chegar a nova Primavera, o álamo seco, descarnado, erguia, como um espantalho, os ramos esgalhados no meio da floresta exuberante de vida e animada pelo trinar das aves. As suas arengas insensatas e a sua mística revolucionária caíra no esquecimento; à sua volta, as flores convertidas balançando-se ao sopro das auras espalhavam o perfume do seu agradecimento ao velho Sol vivificador, e as altas árvores copadas e frondosas curvavam-se perante o astro-rei, em sinal de gratidão.

FONTE: obra JESUS CRISTO REI, do Mons. Tihamer Tóth, tradução de Pe. João Correia Pinto sj, 1956. Algumas palavras foram substituídas para facilitar a compreensão aos nossos “modernos” ouvidos.