“A nossa vocação nos impõe o dever de aspirar à perfeição”

Segue abaixo as palavras de um jesuíta do início do século 17 sobre sua Ordem. O ardor de sua escrita reflete o clima no qual surgiu as Congregações Marianas e que serviu de inspiração para seu tão frutuoso apostolado. Nossa homenagem aos valorosos padres jesuítas que dirigiram as CCMM, no mês em que é lembrado seu extraordinário fundador, Santo Inácio de Loyola:

Pelo Padre Louis Lallemant (1587-1635)


"Deus Pai deu seu Filho à Companhia de  Jesus, para que ela o amasse e honrasse. Nosso Instituto  imita e honra a vida de Jesus Cristo, em todas as suas fases. Se alguns dos seus membros faltam a  este dever é por sua própria culpa e não pela do Instituto.

Não podendo o fim da nossa Companhia ser mais nobre e mais sublime, porque é o mesmo que o do Filho de Deus sobre a terra, e os meios de que dispõe para atingí-lo são igualmente ótimos, pois o nosso Instituto se utiliza de todos os meios sobrenaturais, como o oração, os sacramentos, a pregação; e de todos os meios naturais, como os talentos, o espírito, as ciências e o modo de as ensinar. Mas estes devem ser subordinados à prudência sobrenatural e tirar sua virtude e força da mais alta oração. É nisto que, se não tivermos cuidado, cairemos ordinariamente em erros e, por falta de discrição sobrenatural, nos preocuparemos demasiadamente com os meios naturais e humanos, empregando muito tempo no estudo deles e muito pouco no dos meios sobrenaturais e divinos.

Daí sucede que tiramos pouco fruto dos nossos trabalhos; e este único defeito será capaz de desfazer tudo o mais, nada podendo subsistir sem a graça e sem o espírito interior.

Será prodígio que um religioso da Companhia se conserve muito tempo imperfeito, tendo tantos meios para se aperfeiçoar; pois custa a crer que alguém possa perder tantas graças ou abusar tanto delas, particularmente se houver vivido muitos anos na Companhia!

Se nós nos enfraquecemos no caminho da perfeição e nos contentamos com uma virtude medíocre, falhamos ao fim que nos propusemos como religiosos, que é o da nossa própria perfeição, e, como jesuítas, que é o da maior glória de Deus, que somos obrigados a promover, cuidando da nossa maior perfeição e da do próximo.

Um homem de merecimento dizia a um dos nossos padres, em Paris, que não se admirava do zelo, fervor e santidade do padre Suffren, mas sim de que não fossemos todos outros tantos Pe. Suffren. (nota da Redação: Suffren foi um padre jesuíta de Paris, muito zeloso)

Quanto bem não faria um reitor que tivesse o espírito deste santo homem!
A divisa de Santo Inácio, “Ad majorem Dei gloriam”, quer dizer que, em matéria de perfeição e de santidade, nunca devemos limitar nossos desígnios nem jamais dizer: “Basta, já estou satisfeito, não quero mais”, porque a nossa vocação nos impõe o dever de aspirar à perfeição da vida apostólica e a uma vida totalmente evangélica."

Extraído da obra Vida e Doutrina Espiritual do padre Luiz Lallemant, sj, editora Vozes, 1940