Uma defesa bíblica de Maria
Fonte: Site "The Bible Defends Catholic Church!".
Tradução: Carlos
Martins Nabeto.
Publicado em: http://www.veritatis.com.br
I. Indicações Bíblicas sobre a Função
de Maria
a) Maria como a Rainha Mãe
Existe uma palavra aramaica, Gemera, que significa "Rainha Mãe.
Tradicionalmente, ao lado do trono do Rei, existe um segundo trono. Muitos
afirmariam que o segundo trono pertenceu à esposa do Rei, mas em Israel ele
pertencia à mãe do Rei. A gemera era uma posição oficial e que era conhecida
por todos (inclusive por Jesus e seus discípulos). Sua função era ser advogada
do povo; qualquer pessoa que tinha um pedido ou solicitava uma audiência com o
Rei fazia-o através dela. Ela era uma intercessora, apresentando os desejos e
interesses do povo para o Rei. Isto não significa que o Rei era inacessível, ou
que o povo tinha medo ou era incapaz de falar com ele. Isso meramente
significava que o Rei honrava sua mãe e tratava os pedidos dela com especial
consideração. Da parte das pessoas do povo, elas se sentiam muito próximos à
ela, como se fossem também seus filhos.
Tal função é mencionada em:
* 1Reis 15,13: "Até Maaca, sua avó, depôs da dignidade de
rainha-mãe".
* 2Reis 10,13: "Somos irmãos de Acazias, e descemos a saudar os filhos do rei e os filhos da rainha-mãe".
* Jeremias 13,18: "Dize ao rei e à rainha-mãe: humilhai-vos, e assentai-vos no chão".
* 2Reis 10,13: "Somos irmãos de Acazias, e descemos a saudar os filhos do rei e os filhos da rainha-mãe".
* Jeremias 13,18: "Dize ao rei e à rainha-mãe: humilhai-vos, e assentai-vos no chão".
Seu lugar específico de honra e intercessão é dramaticamente ilustrado
em 1Reis 2,13-21:
"Então veio Adonias, filho de Hagite, a Bate-Seba, mãe de Salomão.
Perguntou ela: 'De paz é a tua vinda?'. Respondeu ele: 'É de paz'. E
acrescentou: 'Uma palavea tenho que dizer-te'. Disse ela: 'Fala'. Disse ele:
'Bem sabes que o reino era meu, e todo o Israel tinha posto a vista em mim para
que eu viesse a reinar, ainda que o reino se transferiu e veio a ser de meu
irmão; pois foi feito seu pelo Senhor. Agora um só pedido te faço; não mo
rejeites'. Ela lhe disse: 'Fala'. Ele disse: 'Peço-te que fales ao rei Salomão
(pois não to recusará), que me dê por mulher a Abisague, a sunamita'. Respondeu
Bate-Seba: 'Muito bem, eu falarei por ti ao rei'. Quando Bate-Seba foi ter com
o rei Salomão, para falar-lhe por Adonias, o rei se levantou a encontrar-se com
ela, inclinou-se diante dela, e se assentou no seu trono. Mandou que pusessem
um trono para a mãe do rei, e ela se assentou à sua mão direita. Disse ela: 'Só
um pequeno pedido te faço, não mo rejeites'. E o rei lhe disse: 'Pede, minha
mãe, porque não to recusarei'. Disse ela: 'Dê-se Abisague, a sunamita, por
mulher a Adonias, teu irmão'".
De particular importância são as seguintes observações:
1. Adonias supunha que a rainha-mãe poderia defender seu interesse
perante o Rei; ou seja, ele confiava nela.
2. A reação do Rei é notável: ele se levantou para vir ao encontro de sua mãe e
prestou-lhe o seu respeito.
3. Um trono foi providenciado para ela; ela se sentou à direita do Rei.
4. Seu poder de intercessão é enfatizado pela repetição da idéia de que o rei
"não a recuse".
O mesmo fazemos hoje com Maria. Nós acreditamos que ela se aproximará do
Rei para defender os nossos interesses. Porém, neste instante, muitos
protestantes dirão: "Não podemos chegar até Ele por meio de ninguém;
podemos tratar diretamente com Deus". Sim, podemos e devemos fazê-lo.
Porém, duvido que o mesmo protestante que usou esse argumento JAMAIS pediu a um
amigo seu para que orasse por ele ou com ele. Pedimos a nossos amigos para que
orem conosco ou por nós, não porque achamos que é impossível se aproximar
diretamente de Deus, mas porque formamos uma família em Cristo e porque é
agradável. Nós nos preocupamos com os outros e pedimos sempre a Deus para que
conceda os interesses daqueles que amamos. Por que limitar esse cuidado e
assistência somente àqueles que estão vivos hoje na terra? São Paulo nos diz
que somos rodeados por uma nuvem de testemunhas - será que essas testemunhas
não demonstram um mínimo de preocupação para conosco? O Apocalipse no nos diz
que as preces dos santos elevam-se como incenso perante Deus (Ap 8,4). Por quem
estariam orando? Em Tobias, lemos: "Quando tu e Sara fazíeis oração, era
eu (arcanjo Rafael) quem apresentava as vossas súplicas diante da glória do
Senhor e as lia" (Tobias 12,12).
Se pedimos para nossos irmãos vivos para orarem por nós, poderíamos
deixar de fazer o mesmo para aqueles que já se encontram presentes diante de
Deus? E se pedimos para aqueles que estão diante de Deus, como poderíamos
deixar de pedir a intercessão daquela que é a mãe do Rei? A Tradição (aquela
mesma Tradição - lembre-se disso - que nos deu a Bíblia) nos diz que quando
Jesus estava agonizando na cruz, disse certas palavras a seu discípulo [João]
que são aplicadas a cada um de nós; tais palavras são: "Eis aí a tua Mãe..."
b. Maria como a Arca da Nova Aliança
Este ponto nos dirige diretamente para o dogma da Imaculada Conceição de
Maria; entretanto, tratarei mais detalhadamente sobre esse assunto (bem como
suas objeções) um pouco mais abaixo.
A Arca da Antiga Aliança abrigava os Dez Mandamentos, que eram a Palavra
de Deus. Na Bíblia, São João chama também Jesus de Palavra (=Verbo) de Deus e
Maria, por carregá-lo em seu ventre, tornou-se a Arca da Nova Aliança. A Arca
da Aliança é santa e pura. Se Maria tivesse o pecado original, ela não poderia
ser pura e, conseqüentemente, também não poderia ser a Arca da Nova Aliança.
Este conceito é apresentado na Bíblia quando comparamos o Antigo Testamento com
o Novo Testamento. Observe estas semelhanças:
Antigo Testamento: quando a Arca da Aliança foi trazida perante o rei Davi -
"Temeu Davi ao Senhor naquele disse, e disse: 'Como virá a mim a Arca do
Senhor?'" (2Samuel 6,9).
Novo Testamento: quando Maria foi visitar sua parente Isabel, que estava
grávida de João Batista - "De onde me provém que me venha visitar a mãe do
meu Senhor?" (Lucas 1,43).
Antigo Testamento: quando o rei Davi dançou de júbilo porque ele estava
na presença da Arca, que continha a Palavra de Deus - "Quando a Arca do
Senhor entrava na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela
janela. E vendo ao rei Davi, que ia saltando e dançando diante do Senhor, o
desprezou no seu coração" (2Samuel 6,16).
Novo Testamento: quando o profeta João Batista saltou de júbilo no
ventre de sua mãe, Isabel. Ele fez isto quando ouviu a voz de Maria, que estava
grávida de Jesus, o qual também é chamado de Palavra (=Verbo) de Deus -
"Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e
Isabel foi cheia do Espírito Santo" (Lucas 1,41).
Antigo Testamento: os israelitas encheram-se de grande júbilo porque
estavam muito próximos da Arca que continha a Palavra de Deus - "Assim
Davi e toda a casa de Israel subiam, trazendo a Arca do Senhor com júbilo e ao
som de trombetas" (2Samuel 6,15).
Novo Testamento: mostra como Isabel e João Batista se encheram de júbilo por estarem na presença de Maria, que carregava a Palavra de Deus - "Exclamou ela [Isabel] em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação a criancinha saltou de alegria no meu ventre' (Lucas 1,42.44).
Novo Testamento: mostra como Isabel e João Batista se encheram de júbilo por estarem na presença de Maria, que carregava a Palavra de Deus - "Exclamou ela [Isabel] em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação a criancinha saltou de alegria no meu ventre' (Lucas 1,42.44).
Se tudo isto é verdade, que Maria é a Arca da Nova Aliança, então ela
deve ter sido pura e não poderia haver qualquer tipo de pecado em sua alma. O
fato de que Maria tenha nascido sem pecado original tem sido um ensinamento muito
claro não apenas da Igreja Católica como também dos fundadores do
Protestantismo. Apenas recentemente algumas denominações protestantes se
afastaram desta doutrina tradicional do Cristianismo.
"É uma doce e piedosa crença esta de que a alma de Maria não
possuía o pecado original; assim, sua alma estava completamente purificada do
pecado original e embelezada com os dons de Deus, por ter recebido de Deus uma
alma pura. Portanto, desde o primeiro momento de sua vida, ela estava livre de
todo o pecado" (Martinho Lutero, "Sermão sobre o Dia da Conceição da
Mãe de Deus", 1527).
Não há outro "símbolo" que eu gostaria de discutir antes de
falar de Maria no Novo Testamento e tal símbolo é o de Maria como "portão
de entrada". A melhor explicação que vi sobre esse assunto foi postado em
uma lista de discussão - embora não me lembre qual, nem o nome de seu autor.
Apresento essa explicação logo abaixo, com um mínimo de edição da minha parte,
e peço desculpas de não poder dar o devido crédito ao autor, pelo motivo exposto.
Quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, ele montava um
jumentinho, o qual ainda não havia sido montado por ninguém (Mc 11,2-10). Ele
também foi encerrado em uma sepultura nova, a qual também não havia sido usada
antes (Jo 19,41). Estas coisas não eram necessárias, mas assim aconteceu -
tanto com o jumentinho quanto para a sepultura usados por Cristo, mas jamais
usados por qualquer outra pessoa - simplesmente para indicar o quanto especial
era Jesus.
No Antigo Testamento também existem símbolos que prefiguram pessoas ou
eventos do Novo Testamento. A pessoa ou evento do Novo Testamento que é
prefigurada no Antigo é chamada de arquétipo. O arquétipo no Novo Testamento é
sempre importante. Adão, por exemplo, é símbolo de Cristo, cf. Rm 5,14.
O profeta Ezequiel refere-se a uma porta que é o símbolo de Maria:
· Ezequiel 44,1-3: "Então me fez voltar para o caminho da porta do
santuário exterior, que olha para o oriente, a qual estava fechada. Disse-me o
Senhor: 'Esta porta estará fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela. Porque
o Senhor Deus de Israel entrou por ela, estará fechada. Quanto ao príncipe, ele
ali se assentará como príncipe, para comer o pão diante do Senhor; pelo caminho
do vestíbulo da porta entrará, e por esse mesmo caminho sairá".
·
Ezequiel 46,8.12: "Quando entrar o príncipe, entrará pelo caminho
do vestíbulo da porta... Quando for o príncipe [...], a porta oriental lhe será
aberta, [...] então ele sairá e a porta será fechada assim que ele sair".
O príncipe é o símbolo de Cristo. E a porta prefigura Maria, já que através de seu ventre que Jesus veio ao mundo. Tal passagem demonstrava que a porta estava reservada para o príncipe, prefigurando que o ventre de Maria estava reservado apenas para Jesus. Como no caso do jumentinho e da nova sepultura, como vimos acima, era adequado e oportuno que a graça de Deus guiou Maria a aceitar uma vida de virgindade consagrada, de maneira que sua Virgindade Perpétua é sinal que aponta para a extraordinariedade de Jesus Cristo.
c. Maria como Intercessora
Ainda que todos os cristãos tenham o poder de interceder uns pelos
outros, a pureza e santidade do intercessor aumentam o poder da súplica. A
Bíblia está repleta de exemplos do Senhor "escutando" as preces dos
justos. Eis alguns casos:
· Provérbios 15,8: "O sacrifício dos ímpios é abominável ao Senhor,
mas a oração dos retos é o seu contentamento".
·
Provérbios 15,29: "O Senhor está longe dos ímpios, mas escuta a
oração dos justos".
· Tiago 5,16-18: "A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias era
homem sujeito às mesmas paixões que nós, e orou com fervor para que não
chovesse, e durante três anos e seis meses não choveu sobre a terra".
·
Provérbios 28,9: "O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até
a sua oração será abominada".
· 1Pedro 3,12: "Pois os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os
seus ouvidos atentos à sua súplica, mas o rosto do Senhor é contra os que fazem
o mal"
· Salmo 32,6: "Pelo que todo aquele que é santo orará a ti, a tempo
de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas a ele não
chegarão".
· Daniel 9,21-23: "Estando eu, digo, ainda falando na oração, o homem
Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio voando
rapidamente, e tocou-me à hora do sacrifício da tarde. Ele me instruiu, e me
disse: 'Daniel, agora vim para fazer-te entender o sentido. No princípio das
tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para declará-la a ti, porque és muito
amado...'".
·
2Crônicas 6,29-30: "Toda oração e súplica que qualquer homem ou
todo o teu povo Israel fizer, conhecendo cada um a sua praga e a sua dor, e
estendendo as mãos para esta casa, ouve tu dos céus, do assento da tua
habitação. Perdoa, e dá a cada um conforme a todos os seus caminhos, segundo
vires o seu coração (pois só tu conheces o coração dos filhos dos
homens)".
Agora, uma vez que a Bíblia demonstra tão claramente que aqueles que são
justos ou corretos são ouvidos pelo Senhor, e já que também sabemos que aqueles
que se encontram no céu não são impuros nem injustos (caso contrário não teriam
como resistir à presença de Deus), então nós podemos afirmar que as preces dos
santos têm um poder e eficácia muito maiores do que às daqueles que ainda se
encontram sobre esta terra, que ainda caminham na imperfeição.
De acordo com isto, percebemos que as orações intercessórias de Maria,
que é a Mãe de Deus e mais pura que qualquer outra pessoa humana, têm um poder
ainda mais especial.
II. A Antiga Tradição Cristã a respeito
de Maria
·
"Filho de Deus pelo desejo e poder de Deus, nasceu verdadeiramente
de uma Virgem" (S. Inácio de Antioquia, "Carta aos Magnésios",
~110 dC).
·
"E novamente, como Isaías havia expressamente previsto que Ele
nasceria de uma virgem, ele declarou o seguinte: 'Eis que uma virgem conceberá
e dará à luz um filho, e seu nome será chamado "Deus-conosco"'.. A
frase 'Eis que uma virgem conceberá' significa certamente que a virgem iria
conceber ser ter relacionamento. Se ela tivesse relacionamento com qualquer um
que fosse, ela não poderia ser virgem. Mas o poder de Deus, vindo sobre a
Virgem, a encobriu, e a induziu a conceber, embora ainda permanecesse Virgem"
(S. Justino Mártir, "Primeira Apologia", 148-155 dC).
·
"A Virgem Maria mostrou-se obediente ao dizer: "Eis aqui tua
serva, Senhor; faça-se em mim conforme a tua palavra". Entretanto, Eva foi
desobediente; mesmo enquanto era virgem, ela não obedeceu. Como ela - que ainda
era virgem embora tivesse Adão por marido... - foi desobediente, tornou-se a
causa da sua própria morte e também de todo gênero humano; então, também Maria,
noiva de um homem mas, apesar disso, ainda virgem, sendo obediente, se tornou a
causa de salvação dela própria e de todo o gênero humano... Assim, o problema
da desobediência de Eva foi eliminado pela obediência de Maria. O que a virgem
Eva causou em sua incredulidade, a Virgem Maria eliminou através da sua
fé" (S. Ireneu, "Contra as Heresias", 180-199 dC).
·
"A Virgem Maria, tendo sido obediente à palavra de Deus, recebeu de
um anjo a alegre notícia de que iria dar à luz ao próprio Deus" (S. Ireneu
de Lião, "Contra as Heresias V,19,1", 189 aD).
·
"Apesar de permanecer virgem enquanto carregava um filho em seu
ventre, a serva e obra da sabedoria divina tornou-se a Mãe de Deus"
(Efraim o Sírio, "Canções de Louvor 1,20", 351 aD).
·
"O Verbo gerado do Pai do céu, inexpressavelmente,
inexplicavelmente, incompreensivelmente e maneira de eterna, nasceu há tempos
atrás da Virgem Maria, a Mãe de Deus" (S. Atanásio, "A Encarnação do
Verbo de Deus 8", 365 dC).
·
"Se alguém disser que a Santa Maria não é a Mãe de Deus, ele está
em divergência com Deus. Se alguém declarar que Cristo passou pela Virgem como
se passasse por um canal, e que não se desenvolveu divina e humanamente nela -
divina porque não houve a participação de um homem, e humanamente segundo a lei
da gestação - tal pessoa é também herege" (S. Gregório de Nanzianzo,
"Carta ao Sacerdote Cledônio", 382 dC).
·
"Nos ajuda a compreender os termos "primogênito" e
"unigênito" quando o Evangelista diz que Maria permaneceu Virgem
"até que deu à luz ao seu filho primogênito" [Mt 1,25]. Nada fez
Maria, que é honrada e louvada acima de todas as outras: não se relacionou com
ninguém, nem jamais foi Mãe de qualquer outro filho; mas, mesmo após o
nascimento do seu filho [único], ela permaneceu sempre e para sempre uma virgem
imaculada" (Dídimo o Cego, "A Trindade 3,4", 386 dC).
·
"Entre todas as mulheres, Maria é a única a ser, ao mesmo tempo,
Virgem e Mãe, não somente segundo o espírito, mas também pelo corpo. Ela é mãe
conforme o espírito, não d'Aquele que é nossa Cabeça, isto é, do Salvador do
qual ela nasceu, espiritualmente. Pois todos os que nele creram - e nesse
número ela mesma se encontra - são chamado, com razão, "filhos do
Esposo" [Mt 9,15]. Mas, certamente, ela é a mãe de seus membros, segundo o
espírito, pois cooperou com seu amor para que nascessem os fiéis na Igreja - os
membros daquela divina Cabeça - da qual ela mesma é, corporalmente, a
verdadeira mãe" (S. Agostinho, "A Virgindade Consagrada 6,6",
401 dC).
·
"Entretanto, quando eles perguntaram: 'Maria é a mãe de um homem ou
a Mãe de Deus?', nós redundemos: 'De ambos'. O primeiro pela natureza do que ocorreu
e o segundo pela relação. Mãe de um homem porque era ser humano que estava e
que saiu do ventre de Maria; e Mãe de Deus porque o homem que nasceu era o
próprio Deus" (Teodoro de Mopsuéstia, "A Encarnação 15", 405
dC).
·
"Agora, herético, você dirá (qualquer um de vocês que negar que
Deus nasceu da Virgem) que Maria, a Mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, não pode
ser chamada de Mãe de Deus, mas somente de Mãe de Cristo e não de Deus, porque
nenhuma mulher - afirmará você - pode dar à luz a alguém mais velho do que ela
própria. A respeito deste estúpido argumento [...] deixe-nos provar por
testemunhos divinos de que tanto Cristo é Deus como Maria é a Mãe de Deus"
(João Cassiano, "Sobre a Encarnação de Cristo contra Nestório 2,2",
429 dC).
·
"O próprio Verbo, vindo por sua vontade à Bem-Aventurada Virgem,
assumiu para si o seu próprio templo da substância da Virgem e saindo dela,
fez-se completamente homem de modo que todos pudessem vê-lo externamente, mas
sendo verdadeiramente Deus internamente. Portanto, Ele preservou sua Mãe virgem
mesmo depois dela ter dado à luz" (S. Cirilo de Alexandria, "Contra
aqueles que não desejam professar que a Santa Virgem é a Mãe de Deus 4",
430 dC).
·
"Assim como os marinheiros são guiados ao porto por uma estrela,
também os Cristãos são guiados ao céu por Maria" (S. Tomás de Aquino).
Também os "reformadores" [protestantes] foram fiéis defensores
de Maria:
·
"Creio firmemente que Maria, conforme as palavras do Evangelho que
afirmam que de uma Virgem nos nasceria o Filho de Deus, permaneceu sempre pura
e intacta Virgem durante e depois do nascimento de seu Filho" (Ulrich
Zwinglio, citado em "Corpus Reformatorum" v.1, p.424).
·
"Ele, Cristo, nosso Salvador, era o fruto real e natural do ventre
virginal de Maria... Isto aconteceu sem a participação de qualquer homem e ela
permaneceu virgem mesmo depois disso" (Martinho Lutero, "Sermões
sobre João", cap. 1 a 4, 1537-39 dC).
·
"[Maria é a] maior e a mais nobre jóia da Cristandade logo após
Cristo... Ela é nobre, sábia e santamente personificada. Jamais conseguiremos
honrá-la suficientemente" (Martinho Lutero, "Sermão do Natal de
1531").
·
"É uma doce e piedosa crença esta que diz que a alma de Maria não
possuía pecado original; esta de que, quando ela recebeu sua alma, ela também
foi purificada do pecado original e adornada com os dons de Deus, recebendo de
Deusuma alma pura. Assim, desde o primeiro momento de sua vida, ela estava
livre de todo pecado" (Martinho Lutero, "Sermão sobre o Dia da
Conceição da Mãe de Deus de 1527").
·
"Certas pessoas têm desejado sugerir desta passagem [Mt 1,25] que a
Virgem Maria teve outros filhos além do Filho de Deus, e que José teve
relacionamento íntimo colo ela depois. Mas que estupidez! O escritor do
evangelho não desejava registrar o que poderia acontecer mais tarde; ele
simplesmente queria deixar bem clara a obediência de José e também desejava
mostrar que José tinha sido bom e verdadeiramente acreditava que Deus enviara
seu anjo a Maria. Portanto, ele jamais teve relações com Maria, mas somente
compartilhou de sua companhia... Além disso, nosso Senhor Jesus Cristo é
chamado o primogênito. Isto não é porque teria que haver um segundo ou terceiro
[filho], mas porque o escritor do Evangelho está se referindo à precedência.
Assim, a Escritura está falando sobre a titularidade do primogênito e não sobre
a questão de ter havido qualquer segundo [filho]" (João Calvino,
"Sermão sobre Mateus", publicado em 1562).
"Não se pode negar que Deus escolheu e destinou Maria para ser a
Mãe de Seu Filho, garantindo-lhe a mais alta honra. Isabel chama Maria de
"Mãe do Senhor" porque a unidade da pessoa nas duas naturezas de
Cristo era tal que ela poderia ter dito que o homem mortal gerado no ventre de
Maria era, ao mesmo tempo, o Deus eterno" (João Calvino, citado em "Corpus
Reformatorum" v.45, p.348).
III. A Virgindade Perpétua de Maria
Todos os cristãos crêem que Maria era virgem quando deu à luz a Jesus.
"Mas Maria disse ao anjo: 'Como pode ser isso se não conheço varão?' E o
anjo lhe respondeu: 'O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te
encobrirá. Então a criança que irá nascer será chamada santa, o Filho de
Deus'" (Lucas 1,34-35).
Quando José ficou sabendo que Maria estava grávida, ele já era noivo
dela, embora ainda não vivessem juntos. Ele quis romper o compromisso pois
sabia que aquela criança não era sua.
"Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a
ele em sonho, dizendo: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo" (Mateus 1,20).
Tudo isto foi previsto no Antigo Testamento e aconteceu para que se
cumprissem as profecias dadas por Deus ao povo judeu: "Pois sabei que o
Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem concebeu e dará à luz um filho
e pôr-lhe-á o nome de Emanuel" (Isaías 7,14).
O ensinamento da Bíblia sobre esta matéria é tão claro que todas as
denominações cristãs concordam sobre a sua interpretação.
Os católicos crêem que Maria permaneceu virgem e não teve outros filhos.
Algumas denominações, porém, afirmam que Maria teve outros filhos. Elas dizem
isto por causa que a Bíblia às vezes menciona os "irmãos do Senhor".
Mas, nos tempos bíblicos, todos os membros da família, inclusive primos, eram
considerados "irmãos". E também vemos que, na Bíblia, o termo
"irmão" é várias vezes usado para se referir a pessoas que não são
irmãos no mesmo sentido em que entendemos a palavra hoje.
Eis alguns exemplos bíblicos:
·
Gênese 14,14: "Quando Abrão soube que seu IRMÃO fora levado
prisioneiro, fez sair seus aliados, seus familiares, em número de trezentos e
dezoito, e deu perseguição até Dã".
O "irmão" em questão nesta passagem é Lot. Mas, era Lot irmão de Abrão? Não. Ele era o filho de Arão, irmão falecido de Abrão (v. Gênese 11,26-28). Portanto, Lot era sobrinho de Abrão.
O "irmão" em questão nesta passagem é Lot. Mas, era Lot irmão de Abrão? Não. Ele era o filho de Arão, irmão falecido de Abrão (v. Gênese 11,26-28). Portanto, Lot era sobrinho de Abrão.
·
Gênese 29,15: "Então Labão disse a Jacó: 'Por seres meu IRMÃO, irás
servir-me de graça? Indica-me qual deve ser teu salário".
Acaso era Labão irmão de Jacó? Não, ele era seu tio.
A explicação, então, é simples: não existe palavra hebraica ou aramaica para "parente". Os escritores teriam assim que usar os termos "irmão" ou "irmã", ou escrever "o filho da irmã do meu pai". É evidente que preferiam usar a palavra "irmão".
Acaso era Labão irmão de Jacó? Não, ele era seu tio.
A explicação, então, é simples: não existe palavra hebraica ou aramaica para "parente". Os escritores teriam assim que usar os termos "irmão" ou "irmã", ou escrever "o filho da irmã do meu pai". É evidente que preferiam usar a palavra "irmão".
Assim você vê que, em termos bíblicos, "irmão",
"irmã" e "irmãos" pode significar parentes próximos,
parentes de sangue ou até mesmo amigos íntimos como, por exemplo:
·
1Reis 9,13: "Ele disse: 'Que cidades são estas que me deste, meu
irmão?' E deu-lhes o nome de 'terra de Cabul', que persiste até hoje".
·
2Samuel 1,26: "Tenho o coração apertado por tua causa, meu irmão
Jônatas. Tu eras imensamente querido, a tua amizade me era mais cara do que o
amor das mulheres".
Também pode significar um aliado:
* Amós 1,9: "Assim falou Javé: 'Pelos três crimes de Tiro, pelos quatro, não o revogarei! Porque entregaram populações inteiras de cativos a Edom e não se lembraram da aliança de irmãos'".
Alguns também vêem nas palavras: "José não conheceu Maria até o
momento em que deu à luz a Jesus" um significado de que, após o nascimento
de Jesus, ela teve relações com José. Contudo, na Bíblia, o termo "até
que" simplesmente significa "o que se deu no passado" e não tem
a mesma conotação que temos em português, significando "algo que aconteceu
após".
A Bíblia menciona uma mulher que não teve filhos até "o tempo de
sua morte" (v. 2Samuel 6,23). Será, então, que produziu descendentes após
sua morte? ;)
Uma pesquisa cuidadosa no Novo Testamento nos mostrará que realmente
existe um exagero de expressão se dissermos que Maria teve outros filhos:
Quando Jesus foi encontrado no templo, com a idade de 12 anos (Lucas
2,41-51), não se menciona a existência de outros filhos, embora toda a família
tivesse peregrinado junto. O povo de Nazaré refere-se a Jesus como "o
filho de Maria" (Marcos 6,3) e não como "um dos filhos de
Maria". A expressão grega inplica que Ele era seu único filho. Na verdade,
ninguém nos Evangelhos é chamado de filho de Maria, ainda quando são chamados
de "irmãos do Senhor".
Existe ainda um outro ponto que requer uma compreensão da antiga cultura
oriental. Em tal cultura, o termo "irmão" era usado para se referir
aos mais velhos - parentes com mais idade cuja função era dar conselhos aos
mais novos. Em João 7,3-4, encontramos os "irmãos" de Jesus
aconselhando-o a deixar a Galiléia e ir para Judéia, para que seus discípulos
pudessem ver as suas obras. Se os "irmãos" forem compreendidos neste
sentido, conforme a cultura oriental, eles certamente seriam mais velhos que
Jesus, o que elimina de vez a possibilidade de serem seus irmãos de fato, já
que todos nós sabemos que Jesus era o filho primogênito de Maria.
Finalmente, devemos considerar o que aconteceu aos pés da Cruz (João
19,26-27). Se Tiago, José, Simão e Judas fossem mesmo irmãos de Jesus, porque
Jesus fez vistas grossas a esse fato e confiou Sua mãe ao Seu discípulo João? O
Evangelhos nos diz que "a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua
casa". Por que ela iria para a casa de um discípulo se ela tinha pelo
menos mais quatro filhos?
IV. Maria, a Mãe de Deus
O fato de que Maria é a Mãe de Deus é meramente lógico:
Uma mulher que dá à luz a um filho é a mãe desse filho +
Maria deu à luz a Jesus = Maria é a Mãe de Jesus
Maria deu à luz a Jesus = Maria é a Mãe de Jesus
Maria é a mãe de Jesus+Jesus é Deus (é uma Pessoa Divina - 2ª Pessoa da
Santíssima Trindade)=Maria é a Mãe de Deus
Ou, simplesmente, podemos ler na Bíblia:
Lucas 1,42-43: "Com um grande grito, exclamou: 'Bendita és tu entre
as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu
Senhor me visite?'"
Agora, mais um pouco de lógica:
Maria é "a mãe do meu Senhor"+O Senhor é Deus=Maria é "a
Mãe do meu Deus"
Para contradizer esta verdade é necessário afirmar que Jesus não é Deus
ou dizer que Maria não deu à luz a Jesus.
Algumas denominações protestantes evitam chamar Maria de Mãe de Deus
porque eles acham que isso a coloca no mesmo nível de Deus [como se ela fosse
uma deusa]. Ao invés, eles preferem dizer que ela era a mãe do "homem
Jesus Cristo". Isto, porém, trai a verdade e coloca a teologia protestante
num dualismo previsível. Cristo Jesus é UMA pessoa e não duas. Ele é UMA pessoa
que possui duas naturezas: é inteiramente humano e inteiramente divino. As duas
naturezas, contudo, são unidas em UMA só Pessoa. Podemos dizer que as nossas
mães são mães da nossa "natureza"? Não, mas simplesmente dizemos que
elas são nossas mães - de nós, como pessoas. Eu não estou dizendo que Maria
gerou ou deu vida à natureza divina de nosso Senhor, uma vez que ele é UMA
Pessoa e não duas. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade "se fez
carne" - isto é o que chamamos de "encarnação" (do latim caro
que significa carne. De onde ele obteve a carne? Se Jesus é Deus e Maria é Sua
mãe, como é logicamente possível dizer que Maria não é a Mãe de Deus?
V. A Imaculada Conceição de Maria
Comecemos com as objeções... A posição protestante pode ser resumida da
seguinte forma:
·
Não há qualquer suporte bíblico para se falar de Maria. Paulo afirma em
sua carta aos romanos que "não há nenhum justo, nem um sequer: todos
pecaram e estão privados da glória de Deus". Logo, se Maria nasceu sem
pecado, não precisava de nenhum Salvador, pois ela estaria salva por si mesma.
Para começar, há evidência escriturística para a pureza única de Maria
(imaculada conceição) - basta comparar a Arca da Aliança que guardava os Dez
Mandamentos e Maria como a Arca da Nova Aliança e como a porta (v. parte I,
item b).
Porém, a objeção mais comum é o uso das palavras de Paulo, de que
"todos pecaram". A palavra usada para "todos", na versão
original em grego, que é a linguagem utilizada por Paulo, é "paz".
Tal termo, entretanto, não tem caráter exclusivista, que não admita exceção,
mas tem o significado de "esmagadora maioria". Podemos ver na Bíblia
outros exemplos em que a palavra "todos" é usada, mas claramente
admitindo exceção:
·
"Pessoalmente estou convicto, irmãos, de que estais cheios de
bondade e repletos de TODO conhecimento e em grau de vos poder admoestar
mutuamente" (Romanos 15,14).
Neste texto, "todo" certamente não significa "sem exceção alguma". Se havia todo conhecimento, sem exceção, então os romanos teriam TODO o conhecimento de Deus!
Neste texto, "todo" certamente não significa "sem exceção alguma". Se havia todo conhecimento, sem exceção, então os romanos teriam TODO o conhecimento de Deus!
Como esta última objeção, também não é verdade de que Maria, tendo
nascido sem mancha do pecado original, não precisaria de um Salvador. A
redenção vem da cruz de Cristo, inclusive para Maria. Ele não nasceu sem pecado
por seu próprio mérito, mas por um ato de misericórdia da parte de Deus. Se
acreditamos que Jesus nos salva do pecado e da morte mesmo depois de termos
cometido pecados pessoais, porque deveríamos negar a idéia de que Ele salvou a
mulher que escolheu para ser a Sua Mãe do pecado e da morte antes mesmo do seu
nascimento? A imaculada conceição de Maria produziu-se pela graça da Cruz e não
por qualquer coisa que ela tenha feito ou por poder próprio dela. Maria de
maneira nenhuma é uma Salvadora. Porém, ela é a Mãe do Salvador e, como tal,
precisava ser tão pura quanto possível.
Nossa fé está repleta de exemplos da obra de Deus em formas misteriosas
e miraculosas, alimentando Seu povo no deserto, concedendo filhos àquelas que
são incapazes de engravidar, curando os doentes, ressuscitando os mortos, recebendo
carne e tornando-se homem... Observe que, em vista de tudo isso, porque nos
seria difícil acreditar que Deus misticamente aplicou os méritos e graças
obtidos no Calvário à Sua Mãe, já que ela foi digna o possível para ser a Arca
da Nova Aliança, a Mãe de Deus? Nós sabemos que, já que Ele é Deus, ele é capaz
de fazer isto se assim o quiser. A única questão que fica remanescente é:
"qual a probabilidade de Deus ter desejado para a mulher que escolheu para
trazer Jesus Cristo ao mundo ter sido tão pura e merecedora de uma graça que
nenhum outro ser humano poderia ter?". Talvez soe melhor fazendo uma
declaração negativa: "qual a probabilidade de Deus ter permitido que Jesus
Cristo viesse à carne, sendo nutrido por nove meses num ventre ou tendo nascido
ou sido amamentado e educado por uma mulher corrompida pelo pecado
original?".