Carta Encíclica Divino Afflante Spiritu, do Papa Pio XII, sobre os estudos bíblicos
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA COMO A TODO O CLERO E FIÉIS DE CRISTO DO ORBE CATÓLICO
SOBRE OS ESTUDOS BÍBLICOS
INTRODUÇÃO
1. 50° aniversário da encíclica "Providentissimus Deus"
1. Inspirados pelo Espírito Divino, escreveram os sagrados autores
aqueles livros que Deus, no seu paterno amor para com o gênero humano, se
dignou dar-nos "para ensinar, para convencer, para corrigir, para educar
na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e bem apetrechado para
toda a obra boa." (1) Não admira, pois, se
a santa Igreja, para quem este tesouro recebido do céu é fonte preciosíssima e
regra divina do dogma e da moral, como o recebeu ilibado das mãos dos
apóstolos, assim com todo o cuidado o conservou, e defendeu de toda e qualquer
interpretação falsa e errônea, e com o maior esmero o utilizou para conseguir a
salvação eterna das almas. Atestam-no eloqüentemente documentos quase
inumeráveis de cada século. Mas nos tempos mais recentes, quando se viu mais
particularmente ameaçada a origem divina dos Livros Sagrados e a sua reta
interpretação, também a Igreja tratou de as defender e proteger com maior
empenho e diligência. E assim já o sacrossanto concílio de Trento, com solene
decreto, determinou que devem reconhecer-se "como sagrados e canônicos os
livros inteiros com todas as suas partes conforme se costuma ler na Igreja
católica e estão na antiga Vulgata latina." (2) E em nosso tempo o
concílio Vaticano II, para condenar algumas falsas doutrinas relativas a
inspiração, declarou que a razão de os mesmos livros deverem ser considerados
como sagrados e canônicos "não é porque, tendo sido compostos apenas por
atividade humana, a Igreja depois os aprovou com a sua autoridade, nem
unicamente porque contêm a revelação sem erro algum, mas porque, escritos sob a
inspiração do Espírito Santo, tem a Deus por autor, e como tais foram confiados
à mesma Igreja."(3) Todavia, mesmo
depois desta solene definição da doutrina católica que reivindica "aos
livros inteiros com todas as suas partes" tal autoridade divina, que os
preserva de todo e qualquer erro, houve escritores católicos que ousaram
coarctar a verdade da Sagrada Escritura unicamente às coisas relativas à fé e a
moral, considerando as restantes, quer físicas quer históricas, como
"ditas de passagem" e sem conexão, afirmavam eles, com as verdades da
fé. Por isso o nosso predecessor de imortal memória Leão XIII com a encíclicaProvidentissimus
Deus, de 18 de novembro de 1893, infligiu àqueles erros a merecida
condenação, e ao mesmo tempo regulou o estudo dos Livros divinos com
prescrições e normas sapientíssimas.
2. Modo de celebrar o cinqüentenário
2. Ora, devendo celebrar-se o qüinquagésimo aniversário da publicação
daquela encíclica, justamente considerada como a Magna Carta dos estudos
bíblicos, nós por aquela atenção que desde o princípio do nosso pontificado
dedicamos aos estudos sagrados,(4); julgamos que o
melhor modo de o fazer era, primeiro, confirmar e inculcar quanto aquele nosso
predecessor sapientemente ordenou e quanto seus sucessores acrescentaram para
consolidamento e aperfeiçoamento da sua obra; depois ordenar o que os tempos
atuais parecem exigir, para estimular cada vez mais todos os filhos da Igreja
que se dão a estes estudos, a uma tão necessária e louvável empresa.
PRIMEIRA PARTE
SOLICITUDE DE LEÃO XIII E SEUS
SUCESSORES PELOS ESTUDOS BÍBLICOS
1. Leão XIII
Doutrina sobre a inerrância bíblica
3. O primeiro e maior cuidado de Leão XIII foi expor a doutrina relativa
à verdade dos Livros Sagrados e defendê-la dos ataques contrários. Por isso em
graves termos declarou que não há erro absolutamente nenhum quando o hagiógrafo
falando de coisas físicas "se atém ao que aparece aos sentidos" como
escreveu o Angélico,(5) exprimindo-se
"ou de modo metafórico, ou segundo o modo comum de falar usado naqueles
tempos e usado ainda hoje em muitos casos na conversação ordinária mesmo pelos
maiores sábios." De fato "não era intenção dos escritores sagrados,
ou melhor - são palavras de santo Agostinho(6) do Espírito Santo
que por eles falava, ensinar aos homens essas coisas - isto é, a íntima constituição
do mundo visível - que nada importam para a salvação".(7) Esse princípio
"deverá aplicar-se às ciências afins, especialmente à história", isto
é, refutando "de modo semelhante os sofismas dos adversários" e
defendendo das suas objeções a verdade histórica da Sagrada Escritura.(8) Nem pode ser taxado
de erro o escritor sagrado, "se aos copistas escaparam algumas inexatidões
na transcrição dos códices" ou "se é incerto o verdadeiro sentido de
algum passo". Enfim é absolutamente vedado "coarctar a inspiração
unicamente a algumas partes da Sagrada Escritura ou conceder que o próprio
escritor sagrado errou", pois que a divina inspiração "de sua
natureza não só exclui todo erro, mas exclui-o e repele-o com a mesma
necessidade com que Deus, suma verdade, não pode ser autor de nenhum erro. Esta
é a fé antiga e constante da Igreja".(9)
4. Esta doutrina, pois, que nosso predecessor Leão XIII com tanta
gravidade expôs, propomo-la nós também com nossa autoridade e a inculcamos,
para que seja de todos escrupulosamente professada. E ademais ordenamos que,
com não menor empenho, se sigam também hoje os conselhos e incitamentos que
ele, como pedia o seu tempo, sabiamente acrescentou. Com efeito, vendo surgir
novas e não leves dificuldades e problemas, quer dos preconceitos do
racionalismo então em voga, quer principalmente dos numerosos monumentos da
antiguidade descobertos e estudados no Oriente, o mesmo nosso predecessor;
movido do zelo do seu múnus apostólico e ansioso não só de tornar uma tão
importante fonte da revelação católica mais segura e largamente acessível para
utilidade da grei do Senhor, mas também de a preservar de todo e qualquer
inquinamento, manifestou vivo desejo de que "muitos compreendessem e
constantemente sustentassem a defesa das divinas Escrituras, e que
especialmente aqueles que a divina graça chamou às sagradas ordens, com
diligência cada vez maior se aplicassem, como é de razão, a lê-las, meditá-las
e explicá-las".(10)
Impulso dado aos estudos bíblicos: Escola bíblica de Jerusalém, Comissão
bíblica
5. Por isso o mesmo pontífice, assim como já antes louvara e aprovara a
Escola bíblica fundada em Jerusalém, junto da basílica de santo Estêvão, por
iniciativa do mestre geral da sagrada Ordem dos Pregadores, porque, segundo ele
próprio se exprime, "tinha dado grande impulso aos estudos bíblicos e
esperava-se que o desse ainda maior";(11) assim no último ano
de sua vida acrescentou um novo meio de aperfeiçoar cada dia mais e promover
com toda a segurança estes estudos tão recomendados na encíclica Providentissimus Deus. De fato com a carta apostólica Vigilantiae de 30 de outubro de
1902 instituía um Conselho ou Comissão de homens competentes, "cuja
incumbência própria fosse procurar por todos os meios que as divinas Escrituras
sejam entre nós largamente cultivadas com aquela maestria que os tempos
requerem, e preservadas não só de qualquer hálito de erro, mas até de toda a
temeridade de opinar."(12) Essa Comissão
também nós, seguindo o exemplo dos nossos predecessores, a confirmamos e
autorizamos com os fatos, valendo-nos dela várias vezes, e em particular para
chamar os expositores dos Livros Sagrados à observância dos sãos princípios de
exegese católica que os santos Padres e doutores da Igreja e os mesmos sumos
pontífices nos deixaram. (13)
2. Pio X
Graus acadêmicos. Programa de estudos bíblicos, Instituto bíblico em
Roma
6. Não é fora de propósito recordar aqui, com gratidão, os atos
principais e de maior alcance com que nossos predecessores contribuíram para o
mesmo fim, e que podemos chamar complementos ou frutos da feliz iniciativa de
Leão XIII. Em primeiro lugar Pio X, querendo fornecer a Igreja "de um meio
seguro para formar bom número de professores, recomendáveis por solidez e
pureza de doutrina, que explicassem nas escolas católicas os livros
santos...", instituiu "os graus acadêmicos de Licenciado e Doutor na
Sagrada Escritura conferidos pela Comissão Bíblica";(14) depois prescreveu
"o programa de estudos da Sagrada Escritura nos seminários" com o fim
de que os sacerdotes "não só adquirissem um profundo conhecimento da
excelência, composição e doutrina da Bíblia, mas também soubessem e pudessem
exercer convenientemente o ministério da divina palavra, e defender das
objeções os Livros escritos sob a inspiração de Deus";(15) enfim "para
que houvesse em Roma um centro de estudos superiores bíblicos que do modo mais
eficaz possível fizesse progredir a ciência da Sagrada Escritura e das matérias
com ela relacionadas, segundo o espírito da Igreja católica", fundou,
confiando-o à ínclita Companhia de Jesus, o Pontifício Instituto Bíblico, e
quis que fosse "provido de escolas superiores e de todos os meios de
instrução bíblica" e prescreveu as normas por que devia reger-se e
funcionar, declarando que assim realizava "o salutar e frutuoso
desígnio" de Leão XIII. (16)
3. Pio Xl
Graus acadêmicos obrigatórios
7. Coroou todas essas medidas o nosso predecessor de feliz memória Pio
XI ordenando, entre outras coisas, que "ninguém pudesse ser professor de
Sagrada Escritura nos seminários senão depois de feito um curso especial desta
ciência e conseguidos regularmente os graus acadêmicos na Comissão bíblica ou
no Instituto bíblico"; graus que ele declarou equiparados quanto aos
direitos e efeitos aos graus devidamente conferidos na sagrada Teologia e no
Direito Canônico; determinou também que a ninguém seja conferido "um benefício
ao qual esteja canonicamente anexo o ônus de explicar ao povo a Sagrada
Escritura, se, além do mais, não tiver conseguido a licenciatura ou a láurea em
Sagrada Escritura." Ao mesmo tempo exortava os gerais das ordens regulares
e das congregações religiosas, bem como os bispos de todo o orbe católico, a
que mandassem os mais capazes dos seus alunos a freqüentar as escolas do
Instituto Bíblico para aí conseguirem os graus acadêmicos; e a fim de confirmar
com seu exemplo essas exortações, constituiu para esse fim rendimentos anuais
fruto da sua munificência.(17)
Mosteiro de S. Jerônimo para a revisão da Vulgata
8. O mesmo pontífice, visto que em 1907 com o favor e aprovação de Pio X
de feliz memória "fora confiado aos padres beneditinos o encargo de fazer
investigações e estudos preparatórios para a edição da versão da Sagrada
Escritura comumente chamada Vulgata", (18) querendo dar mais
sólida base e maior segurança a esta "fadigosa e árdua empresa", que
exige muito tempo e grandes despesas, mas cuja grandíssima utilidade mostram os
magníficos volumes já publicados, levantou o Cenóbio Romano de S. Jerônimo,
inteiramente dedicado àquela obra, e dotou-o generosamente de rica biblioteca e
de todos os meios de investigação.(19)
4. A difusão dos Livros Santos
9. Nem se deve aqui passar em silêncio quanto os mesmos nossos
predecessores, sempre que se lhes ofereceu ocasião, recomendaram o estudo, a
pregação, a leitura e meditação das Sagradas Escrituras. Com efeito Pio X
aprovou calorosamente a Sociedade de S. Jerônimo que tem por fim propagar entre
os fiéis o louvável costume de ler e meditar os santos Evangelhos e facilitar
quanto possível este pio exercício. Exortou-a a perseverar constantemente na
empresa, afirmando que "era a coisa mais útil e adaptada aos tempos",
pois contribui não pouco "a desfazer o preconceito que a Igreja se opõe à
leitura da Sagrada Escritura em língua vulgar e procura impedi-la".(20) Bento XV no XV
centenário da morte do doutor máximo, na exposição das Sagradas Escrituras,
depois de inculcar escrupulosamente os ensinamentos e exemplos do mesmo santo
doutor e os princípios e normas ditados por Leão XIII e por ele próprio, e
depois de outras oportuníssimas recomendações deste gênero que é preciso não
esquecer nunca, exortou "todos os filhos da Igreja e especialmente o clero
à veneração da Sagrada Escritura juntamente com a devota leitura e meditação
assídua", fazendo notar "que nestas páginas se deve procurar o
alimento que sustenta e aperfeiçoa a vida do espírito" e que "o
principal uso da Escritura é o que tem por fim exercer santa e frutuosamente o
ministério da divina palavra". Depois louvou novamente a atividade da Sociedade
que tomou o nome do mesmo S. Jerônimo, que em larga escala difunde os
Evangelhos e os Atos dos Apóstolos, "de tal forma que já não há família
cristã que os não possua e todos se vão habituando a lê-los e meditá-los todos
os dias".(21)
10. É, porém, justo e grato reconhecer que os notáveis progressos feitos
pela ciência e uso das Sagradas Escrituras entre os católicos se devem não
somente a essas disposições, prescrições e exortações de nossos predecessores,
mas também ao concurso e colaboração de todos os que, com pronto acatamento,
consagraram as suas fadigas tanto a meditar, investigar e escrever, como a
ensinar, pregar, traduzir e propagar os Livros Santos. Com efeito, das escolas
superiores de Teologia e Sagrada Escritura e, principalmente, de nosso
Pontifício Instituto Bíblico têm saído já e saem muitos cultores das divinas
Escrituras, que animados de ardente amor dos Livros santos infundem o mesmo
amor na juventude eclesiástica e lhe comunicam diligentemente a doutrina que
aprenderam. Não poucos têm feito e fazem progredir as ciências bíblicas,
nomeadamente com seus escritos, quer publicando edições críticas do sagrado
texto, explicando-o, ilustrando-o, traduzindo-o, em vulgar, quer propondo-o à
devota leitura e meditação dos fiéis, quer finalmente aprendendo e cultivando
as ciências profanas que servem à inteligência da Escritura. Essas e outras
obras que cada dia mais se vão propagando e desenvolvendo, quais são, por
exemplo, as reuniões; congressos, semanas de estudos bíblicos, bibliotecas,
associações para a meditação dos evangelhos, fazem-nos conceber certas
esperanças de que para o futuro a veneração, uso e ciência das sagradas
Escrituras progredirão cada vez mais para o bem das almas; contanto que todos
com firmeza, entusiasmo e confiança se atenham ao método de estudos bíblicos
traçados por Leão XIII, por seus sucessores declarado e aperfeiçoado, e por nós
confirmado e acrescido; método que é o único seguro e comprovado pela
experiência; nem se deixem desanimar pelas dificuldades, que, como sucede nas
coisas humanas, nunca hão de faltar nesta tão grande obra.
SEGUNDA PARTE
CRITÉRIOS HERMENÊUTICOS PARA O ESTUDO DA
SAGRADA ESCRITURA HOJE
1. Estado atual dos estudos bíblicos
11. Nesses cinqüenta anos as condições dos estudos bíblicos e ciências
auxiliares; não há quem o não veja, mudaram consideravelmente. Assim, para não
falar de outras coisas, quando nosso predecessor publicou a Encíclica Providentissimus Deus, apenas um ou outro
lugar da Palestina se tinha começado a explorar com escavações orientadas nesse
sentido. Agora tais explorações têm-se multiplicado enormemente e fazem-se com
métodos mais rigorosos e arte aperfeiçoada pela experiência, de modo que os
resultados são muito mais abundantes e certos. Quanta luz se tire de tais
investigações para compreender melhor e mais perfeitamente os Livros santos,
sabem-nos os doutos, sabem-no todos os que se dão a este gênero de estudos.
Aumentam o valor destas explorações os monumentos escritos por vezes
encontrados, que ajudam muito a conhecer as línguas, a literatura, a história,
os costumes, os cultos daqueles antiquíssimos povos. Nem é menor a importância
da investigação e descoberta dos papiros, tão freqüente em nossos dias, e que
tanto tem contribuído para melhor conhecimento das letras e instituições
públicas e particulares, especialmente do tempo de nosso divino Salvador.
Encontraram-se ainda e publicaram-se, conforme as exigências da crítica,
antigos manuscritos dos Livros santos; a exegese dos Padres da Igreja foi mais
larga e profundamente estudada; inúmeros exemplos vieram a ilustrar o modo de
falar, de narrar e de escrever dos antigos. Tudo isso que, não sem providência
especial de Deus, conseguiu a nossa época, convida e aconselha aos intérpretes
das sagradas Escrituras a aproveitar diligentemente tanta luz para perscrutar
mais a fundo os divinos Oráculos, ilustrá-los com maior clareza, expô-los com
maior precisão. Vemos, com suma complacência da nossa alma, que os intérpretes
têm correspondido e continuam a corresponder com louvável zelo a este convite;
é este um fruto, e não dos últimos nem dos menores, da encíclica Providentissimus Deus, com a qual o nosso predecessor, como
presságio desta nova primavera de estudos bíblicos, chamou os exegetas
católicos ao trabalho e lhes traçou o caminho e métodos de trabalhar. Ora, que
o trabalho não só continue constantemente, mas frutifique e se aperfeiçoe cada
vez mais é o que nós também desejamos conseguir com esta encíclica; na qual nos
propomos sobretudo mostrar a todos o que falta ainda por fazer e qual o
espírito com que o exegeta católico de hoje deve aplicar-se a um múnus tão
grande e tão excelso, e infundir novo animo e novos estímulos aos operários que
estrenuamente trabalham na vinha do Senhor.
2. Uso dos textos originais
Estudo das línguas bíblicas
12. Ao intérprete católico que se aplica a entender e expor as Sagradas
Escrituras, já os Padres da Igreja - e sobretudo Agostinho - recomendaram
vivamente o estudo das línguas antigas e o recurso aos textos originais.(22) Todavia as
condições dos estudos naqueles tempos eram tais que só poucos, e ainda assim
imperfeitamente, conheciam a língua. Na Idade Média, quando mais florescia a
teologia escolástica, tinha decaído tanto também o conhecimento do grego entre
os ocidentais, que até os maiores doutores daquele tempo, ao explicarem os
Livros santos, deviam basear-se unicamente na tradução latina da Vulgata. Ao
contrário em nossos dias não só a língua grega, que com a Renascença ressurgiu
por assim dizer à nova vida, é familiar a quase todos os literatos e cultores
da antiguidade, mas também a hebraica e as outras línguas orientais são
largamente conhecidas dos eruditos. Além disso são hoje tantos os meios para
aprender aquelas linguas que o intérprete da Escritura, que, descurando-as,
fecha a si mesmo o acesso aos textos originais, não podendo evitar a imputação
de inconsideração e indolência. Dever do exegeta é aproveitar com a máxima
atenção e veneração ainda as mais pequenas minudências provenientes da pena do
hagiógrafo sob a inspiração do Divino Espírito, a fim de penetrar a fundo e
plenamente o seu pensamento. Por isso trabalhe por adquirir uma perícia cada
vez maior das línguas bíblicas e também dos outros idiomas orientais e apóie a
sua interpretação com todos os recursos subministrados por toda espécie de
filologia. Foi o que s. Jerônimo se esforçou por conseguir, quanto o consentiam
os conhecimentos daquela época, e o mesmo procuraram, com indefesso estudo e
fruto mais que ordinários, os grandes exegetas dos séculos XVI e XVII, se bem
que fosse então, menor do que hoje, a ciência lingüística. Deve, pois, com o
mesmo método explicar-se o texto original, o qual pelo fato mesmo de ter sido
escrito pelo Autor sagrado, tem maior autoridade e peso que qualquer tradução
antiga ou moderna por ótima que seja; e isso poderá obter-se mais fácil e
proveitosamente, se ao conhecimento das línguas se unir uma sólida perícia da
arte crítica aplicada ao mesmo texto.
Importância da crítica textual
13. Quanta seja a importância desta crítica, bem o dá a entender santo
Agostinho, quando entre as normas que inculca ao estudioso dos Livros Santos,
põe em primeiro lugar o cuidado de procurar um texto correto. "A emendar
os códices, diz aquele preclaríssimo doutor da Igreja, deve antes de mais nada
atender a sagacidade pelos que desejam conhecer as divinas Escrituras, para que
os não emendados cedam o lugar aos emendados",(23) Hoje em dia esta
arte que sói chamar-se crítica textual e nas edições de autores profanos se
emprega com grande louvor e fruto, com toda a razão se aplica também aos Livros
Santos, precisamente pela reverência devida à palavra de Deus. De fato o seu
fim é reconstruir com toda a possível perfeição o texto sagrado, expurgá-lo das
alterações nele introduzidas por culpa dos copistas, mudando-o das glossas e
lacunas, transposições e repetições de palavras, e de toda espécie de erros que
costumam infiltrar-se na transmissão plurissecular de obras manuscritas. Nem
quase é preciso advertir que essa crítica, que alguns decênios atrás muitos
empregaram de modo completamente arbitrário, tanto que muitas vezes parecia não
pretenderem outra coisa senão introduzir no texto sagrado as suas opiniões
preconcebidas, hoje chegou a tal consistência e segurança de regras, que se
tornou um magnífico instrumento para a edição da divina palavra em forma mais
exata e mais pura, e é fácil descobrir qualquer abuso que dela se faça. Nem é
necessário lembrar aqui - pois é coisa conhecida e manifesta a quantos estudam
a Sagrada Escritura - quanta apreço fez sempre a Igreja, desde os primeiros
séculos até aos nossos tempos, dos estudos críticos. Portanto hoje que esta
arte atingiu tão grande perfeição, é um dever de honra, bem que não sempre
fácil, para os especialistas em Sagrada Escritura, procurar por todos os meios
que quanto antes se preparem edições católicas dos Livros santos e das antigas
traduções, feitas segundo estas normas, de modo que com uma reverência suma
para com o texto sagrado unam uma exata observância de todas as leis da
crítica. E saibam bem todos que este longo trabalho não só é necessário para
bem compreender os escritos divinamente inspirados, mas é imperiosamente
exigido pela piedade com que nos devemos mostrar sumamente agradecidos a
amorosíssima Providência de Deus que do trono da sua majestade nos mandou esses
livros como cartas do Pai celeste aos próprios filhos.
Texto original e autenticidade da vulgata
14. Nem vá alguém pensar que o sobredito uso dos textos originais, feito
segundo as regras da crítica, é contrário a quanto o concílio de Trento
sabiamente decretou a respeito da Vulgata latina.(24) É um fato, atestado
pelos documentos, que os presidentes do concílio receberam o encargo, por eles
fielmente cumprido, de pedir ao sumo pontífice em nome do mesmo Concílio que
mandasse corrigir o melhor possível, primeiro a edição latina, depois também a
grega e a hebraica, e as publicasse para proveito da santa Igreja de Deus.(25) A esse desejo, se
então pelas dificuldades dos tempos e outros obstáculos não se pode dar plena
satisfação, atualmente com a colaboração de doutos católicos pode dar-se, e confiamos
que se dará execução mais vasta e perfeita. Quanto à Vulgata, se o concílio
Tridentino ordenou que ela fosse a tradução latina que todos usassem como
autêntica, primeiro, este decreto, como todos sabem, é só para a Igreja latina,
e para o uso público da Escritura; depois, em nada diminui a autoridade e valor
dos textos originais. De fato não se tratava então dos textos originais, mas
das traduções latinas que naquele tempo corriam, entre as quais o concílio
justamente decretou se preferisse a que "pelo longo uso de tantos séculos
na mesma Igreja estava já de fato aprovada". Portanto esta autoridade
preeminente ou autenticidade da Vulgata decretou-a o concílio não
principalmente por motivos de crítica, mas antes pelo uso legítimo que dela se
fez na Igreja durante tantos séculos; uso que prova estar ela, no sentido em
que a entendeu e entende a Igreja, completamente isenta de erros no que toca a
fé e aos costumes; de modo que, como a mesma Igreja atesta e confirma, se pode
nas disputas, preleções e pregação alegar seguramente e sem perigo de errar;
por isso esta autenticidade propriamente não se chama "crítica" mas
"jurídica". Nem a autoridade da Vulgata em matéria de doutrina
impede, - antes nos nossos dias quase exige - que a mesma doutrina se prove e
confirme também com os textos originais, e que se recorra aos mesmos textos
para encontrar e explicar cada vez melhor o verdadeiro sentido das Sagradas
Escrituras. Antes, o decreto Tridentino nem sequer proíbe que, para uso e
proveito dos fiéis e para facilitar a inteligência da divina palavra, se façam
traduções em línguas vulgares, e precisamente dos textos originais, como
sabemos terem-se já feito, e muito bem, em várias partes, com aprovação da
autoridade eclesiástica.
3. Interpretação dos Livros santos
Antes de tudo o sentido literal e a doutrina teológica
15. Bem preparado com o conhecimento das línguas antigas e com os
recursos da crítica, aplique-se o exegeta católico àquele que é o principal de
todos os seus deveres: indagar e expor o sentido genuíno dos Livros Sagrados.
Neste trabalho tenham os intérpretes bem presente que o seu maior cuidado deve
ser distinguir claramente e precisar qual seja o sentido literal das palavras
bíblicas. Procurem-no pois com toda a diligência, valendo-se da ciência das
línguas, do exame do contexto, da comparação com passos semelhantes; coisas
todas de que se costuma tirar partido na interpretação dos escritores profanos,
para tirar a limpo o pensamento do autor. Mas os comentadores da Sagrada
Escritura, tendo presente que se trata de um texto divinamente inspirado, cuja
conservação e interpretação foram pelo mesmo Deus confiadas à Igreja, com não
menor diligência, atenderão às explicações e declarações do magistério
eclesiástico, bem como à exposição dos santos Padres e "à analogia da
fé", como nota sapientissimamente Leão XIII na EncíclicaProvidentissimus
Deus.(26) Guardem-se com
particular cuidado de expor somente o que toca à história, à arqueologia, à
filologia e outras matérias semelhantes - como com mágoa vemos que se faz em
alguns comentários -; mas, dadas oportunamente tais notícias enquanto podem
servir à exegese, ponham em evidência sobretudo a doutrina teológica, dogmática
ou moral, de cada livro ou texto. Desse modo a sua exposição não só aproveitará
aos professores de teologia ao exporem e provarem os dogmas da fé, mas servirá
também aos sacerdotes para a explicação da doutrina cristã ao povo, e será útil
a todos os fiéis para viverem uma vida santa, digna de um verdadeiro cristão.
O sentido espiritual, querido e ordenado por Deus
16. Tal interpretação prevalentemente teológica, como dissemos, será
meio eficaz para fazer calar os que se queixam de não encontrar nos comentários
bíblicos nada que eleve a mente a Deus, alimente a alma, fomente a vida
interior, e por isso dizem que é preciso recorrer a uma interpretação que
chamam espiritual e mística. Quão pouco justa seja essa acusação, prova-o a
experiência de muitos que com freqüente consideração e meditação da palavra de
Deus têm santificado as suas almas e se têm inflamado no amor de Deus;
provam-no claramente a constante prática da Igreja e os ensinamentos dos maiores
doutores. Certamente que nem todo o sentido espiritual se pode excluir da
Sagrada Escritura; pois que tudo o que foi dito e feito no Antigo Testamento,
foi por Deus sapientissimamente ordenado e disposto de modo que as coisas
passadas prefigurassem espiritualmente as futuras que deviam realizar-se no
Novo Testamento da graça. Por isso o exegeta do mesmo modo como deve encontrar
e expor o sentido literal das palavras que o hagiógrafo pretendia exprimir,
assim também deve indagar o espiritual nos passos onde realmente conste que
Deus o quis expressar. De fato este sentido espiritual só Deus o pode conhecer
e revelar. Ora, indica-o e ensina-o o próprio Salvador nos evangelhos; e,
seguindo o exemplo do divino Mestre, usam-no os apóstolos falando e escrevendo;
aponta-o a constante tradição da Igreja; e, finalmente, o conhecido princípio:
"A lei de orar é a lei de crer". Esse sentido espiritual por Deus
pretendido e ordenado, descubram-no e exponham-no os exegetas católicos com a
diligência que requer a dignidade da divina palavra; guardem-se, porém,
escrupulosamente de apresentar como sentido genuíno da Sagrada Escritura outros
valores figurativos das coisas. Pode sim ser útil, especialmente na pregação,
ilustrar e persuadir as coisas da fé e da moral cristã com uso mais largo do
sagrado texto em sentido figurado, contanto que se faça com moderação e
sobriedade; mas é preciso não esquecer que tal uso da Sagrada Escritura lhe é
como que extrínseco e adicional, e não deixa de ser perigoso; sobretudo em
nossos dias, porque os fiéis, e nomeadamente as pessoas cultas nas ciências
sagradas ou profanas, querem saber o que Deus disse nas Sagradas Escrituras, e
não tanto o que um fecundo orador ou escritor usando com destreza as palavras
da Bíblia, é capaz de nos dizer. "A palavra de Deus viva e eficaz, mais
cortante que uma espada de dois gumes, penetrante até dividir alma e espírito,
articulações e medulas, capaz de destrinçar pensamentos e sentimentos do
coração"(27) não precisa de
artifícios e adaptações humanas para mover e abalar os corações; as Sagradas
Páginas escritas sob a inspiração do Espírito de Deus são de per si ricas de sentido próprio; dotadas de
força divina, são poderosas por si mesmas; ornadas de supremo esplendor por si
mesmas brilham e resplandecem, se o intérprete com uma explicação fiel e
completa sabe desentranhar todos os tesouros de sabedoria e prudência que nelas
estão encerrados.
Incitamento ao estudo dos santos Padres e dos doutores da Igreja
17. Para isso conseguir poderá o exegeta católico auxiliar-se
egregiamente do estudo inteligente dos escritos em que os santos Padres e
doutores da Igreja e os ilustres intérpretes das épocas passadas comentaram os
Livros Santos. Pois que eles, bem que talvez menos fornecidos de instrução
profana e de ciência lingüística do que os intérpretes dos nossos dias, contudo
pelo lugar que Deus lhes deu na Igreja, distinguem-se por uma suave intuição
das coisas celestes e por uma admirável perspicácia com que penetram até às
mais íntimas profundidades da divina palavra e tiram à luz quanto pode servir
para ilustrar a doutrina de Cristo e promover a santidade da vida. Verdadeiramente
é pena que tão preciosos tesouros da antiguidade cristã sejam pouco conhecidos
de muitos escritores do nosso tempo e que os cultores da história da exegese
não tenham ainda feito tudo para aprofundar bem e apreciar devidamente uma
coisa de tanta importância. Preza a Deus que muitos se dêem diligentemente a
explorar os autores e obras de interpretação católica da Escritura, e,
extraindo as riquezas quase imensas nelas acumuladas, concorram eficazmente
para que se veja melhor quão intimamente penetravam e quão bem explicaram os
antigos a divina doutrina dos Livros Santos; e os intérpretes atuais tomem daí
exemplo e aproveitem os preciosos materiais postos à sua disposição. Assim
efetuar-se-á, finalmente, a feliz e fecunda combinação da doutrina e suave
unção dos antigos com a mais vasta erudição e arte mais progredida dos
modernos, a qual decerto produzirá novos frutos no campo nunca assaz cultivado
das divinas Escrituras.
4. Tarefa especial dos exegetas em nossos dias
Estado atual das ciências bíblicas
18. Com fundada razão podemos esperar que os nossos tempos contribuam
também com a sua quota nova para uma interpretação mais completa e exata das
Sagradas Escrituras. De fato há não poucas coisas, especialmente no terreno
histórico que não foram explicadas, ou foram só imperfeitamente, pelos
expositores dos séculos passados, porque lhes faltavam os conhecimentos
necessários para obter melhores resultados. Quão árduos e quase inacessíveis
acharam os mesmos Padres alguns passos, mostram-no, por exemplo, os repetidos
esforços que muitos deles fizeram para interpretar os primeiros capítulos do
Gênesis; ou também as várias tentativas de são Jerônimo para traduzir os salmos
de modo que o sentido literal do texto aparecesse claramente. Em outros livros
ou textos sagrados só a Idade Moderna descobriu dificuldades, antes não
suspeitadas, depois que um melhor conhecimento dos antigos tempos fez surgir
problemas que fazem penetrar mais adentro no assunto. Por isso erradamente vão
dizendo alguns, mal informados do estado da ciência bíblica, que ao exegeta
católico dos nossos dias nada resta a acrescentar a quanto produziu a
antiguidade cristã; pelo contrário, a verdade é que o nosso tempo tem chamado a
atenção para muitas coisas que requerem nova investigação e novo exame e
estimulam fortemente a atividade do exegeta.
Natureza e efeitos da inspiração divina
19. E realmente a nossa época, se por um lado acumula novos problemas e
dificuldades, por outro, graças a Deus, oferece à exegese novos recursos e
subsídios. Entre esses merece especial referência o fato de os teólogos
católicos, seguindo a doutrina dos santos Padres e, principalmente, do doutor
angélico e comum, terem indagado e exposto com mais precisão e fineza do que
nos séculos passados, a natureza e efeito da inspiração bíblica. Partindo nas
suas investigações do princípio que o hagiógrafo ao escrever o livro sagrado é órgão ou instrumento do Espírito Santo, mas
instrumento vivo e racional, observam justamente que ele sob a moção divina usa
das suas faculdades e energias de tal modo, que todos podem facilmente
reconhecer do livro por ele composto "qual a sua índole própria, e como
que as feições e traços característicos da sua fisionomia".(28) Procure por
conseguinte o intérprete distinguir com todo o cuidado, sem descurar nenhuma
luz fornecida pelas recentes investigações, qual a índole própria e condição
social do autor sagrado, em que tempo viveu, de que fontes, escritas ou orais,
se serviu, que formas de dizer empregou. Assim poderá conhecer melhor quem foi
o hagiógrafo e o que quis dizer no seu escrito. Porque, enfim, ninguém ignora
que a norma suprema da interpretação é indagar e definir que coisa se propôs
dizer o escritor, como egregiamente adverte santo Atanásio: "Aqui, como em
todos os outros passos da Escritura divina, deve-se notar diligente e fielmente
em que ocasião falou o Apóstolo, qual o destinatário e qual o motivo de
escrever; não seja que, ignorando essas coisas ou tomando umas por outras, nos
desviemos do pensamento do autor".(29)
Importância do gênero literário, especialmente na história
20. Ora, qual o sentido literal de um escrito, muitas vezes não é tão
claro nas palavras dos antigos orientais como nos escritores do nosso tempo. O
que eles queriam significar com as palavras não se pode determinar só pelas
regras da gramática e da filologia, nem só pelo contexto; o intérprete deve
transportar-se com o pensamento àqueles antigos tempos do Oriente, e com o
auxílio da história, da arqueologia; etnologia e outras ciências, examinar e
distinguir claramente que gêneros literários quiseram empregar e empregaram de
fato os escritores daquelas épocas remotas. De fato os antigos orientais, para
exprimir os seus conceitos, nem sempre usaram das formas ou gêneros de dizer de
que nós hoje usamos; mas sim daqueles que estavam em uso entre os seus
contemporâneos e conterrâneos. Quais eles fossem não o pode o exegeta
determinar a priori, mas só por meio de
um diligente exame das antigas literaturas orientais. Esse estudo, feito com
maior cuidado e diligência nos últimos decênios, mostrou mais claramente quais
as formas de dizer empregadas naqueles antigos tempos quer nas composições
poéticas, quer na legislação ou na história. A mesma investigação demonstrou já
luminosamente que o povo de Israel, entre todas as antigas nações do Oriente,
ocupa um lugar eminente e singular no escrever da história, quer pela
antiguidade quer pela fiel narração dos fatos, prerrogativas essas que em
verdade se podem deduzir do carisma da divina inspiração e do particular fim
religioso da história bíblica. Contudo ninguém que tenha um conceito justo da
inspiração bïblica poderá estranhar que também nos autores sagrados, como nos
outros antigos, se encontrem certos modos de expor e contar, certos idiotismos
próprios, especialmente das línguas semíticas, certas expressões aproximativas ou hiperbólicas e talvez paradoxais,
que servem para gravar as coisas mais firmemente na memória. Nenhum dos modos
de falar de que entre os antigos e especialmente entre os orientais se servia a
linguagem para exprimir o pensamento, pode dizer-se incompatível com os Livros
Santos, uma vez que o gênero adotado não repugne à santidade e verdade de Deus.
Advertiu-o já o doutor angélico com a sua costumeira perspicácia por estas
palavras: "Na Escritura as coisas divinas nos são apresentadas ao modo
usual, humano".(30) Como o Verbo substancial
de Deus se fez semelhante aos homens em tudo "exceto o pecado",(31) assim também a
palavra de Deus expressa em línguas humanas assemelhou-se em tudo à linguagem
humana, exceto o erro. Nisto consiste aquela providencial
"condescendência" (sinkatábasis) de Deus, que já são João
Crisóstomo exaltou eloqüentemente e que tantas vezes assegurou encontrar-se nos
Livros Santos.(32)
A determinação do gênero literário
21. Portanto o exegeta católico, para corresponder às hodiernas
exigências dos estudos bíblicos, ao expor a Sagrada Escritura, e ao mostrá-la e
demonstrá-la imune de qualquer erro, use com a devida prudência também deste
meio, examinando quanto possa ajudar a verdadeira e genuína interpretação a
forma ou gênero literário empregado pelo hagiógrafo; e persuada-se que não pode
descurar esta parte do seu ofício sem grande prejuízo da exegese católica.
Assim, para citar um só exemplo, quando alguns presumem acusar os autores
sagrados de erro histórico ou de inexatidão em referir certos fatos, examinando
bem vê-se que se trata simplesmente de modos de falar ou narrar próprios dos
antigos, correntemente usados para trocar idéias e que realmente se aceitavam
como lícitos no trato ordinário. Quando, por conseguinte, tais modos de falar
se encontram na divina palavra, que se exprime em linguagem humana para os
homens, pede a justiça que não sejam tachados de erro mais do que quando
empregados no uso cotidiano. Conhecendo, pois, e avaliando devidamente os modos
e arte de falar e escrever dos antigos poderão resolver-se muitas objeções que
se fazem contra a verdade e valor histórico das divinas Escrituras; além de que
esse estudo ajudará muito a uma mais completa e luminosa compreensão do
pensamento do Autor sagrado.
Estudo das antiguidades bíblicas e conveniência de o promover
22. Portanto os nossos especialistas de estudos bíblicos atendam também
com a devida diligência a este ponto, nem desprezem nenhuma descoberta da
arqueologia ou da história antiga ou da ciência das antigas literaturas, que
possa servir ao melhor conhecimento da mentalidade dos antigos escritores, do
seu modo e arte de raciocinar, narrar e escrever. E neste campo saibam também
os seculares católicos que não só contribuirão para o progresso das ciências
profanas, senão que, também, prestarão um assinalado serviço à causa cristã, se
com a devida diligência e aplicação se derem à exploração e estudo da
antiguidade, e concorrerem assim para a boa solução de problemas até agora
ainda mal solucionados e obscuros. Pois todo o conhecimento humano; embora não
sagrado, por isso mesmo que é uma participação finita da infinita ciência de
Deus, tem já de per siuma sua dignidade e
excelência própria; mas eleva-se a uma nova e mais alta dignidade e quase
consagração, quando se ocupa em fazer brilhar com clara luz as coisas divinas.
5. Como tratar as questões mais difíceis
Valor histórico da Bíblia
23. Os progressos da investigação da antiguidade oriental, de que
falamos, o estudo mais minucioso do texto original, o conhecimento mais vasto e
perfeito das línguas bíblicas e das orientais em geral, deram em resultado, com
o divino auxílio, que muitas das questões, que ao tempo de nosso predecessor
Leão XIII, os críticos estranhos ou mesmo adversos à Igreja levantavam contra a
autenticidade, antiguidade, integridade, e valor histórico dos Livros Santos,
estão hoje completamente resolvidas e liquidadas. É que os exegetas católicos
manejando retamente as mesmas armas da ciência de que os adversários não raro
abusavam, encontraram interpretações conformes a doutrina católica e a genuína
tradição, e que, ao mesmo tempo, parecem resolver perfeitamente as
dificuldades, tanto as que os antigos nos deixaram sem solução, como as que de
novo criaram as descobertas das modernas investigações. Em conseqüência vemos
que o crédito da Bíblia e do seu valor histórico, um tanto abalado na opinião
de alguns por tantos ataques, hoje está plenamente restabelecida entre os
católicos; antes não faltam escritores acatólicos que, em conseqüência de
estudos feitos com seriedade e ânimo desapaixonado, chegaram a abandonar as
opiniões dos modernos, para tornar, ao menos em alguns pontos, às antigas
sentenças. Essa mudança deve-se, em grande parte, ao trabalho indefesso dos
comentadores católicos, que sem se deixarem descoroçoar das dificuldades e
obstáculos de toda a espécie, procuraram com todo o afinco aproveitar quanto as
modernas investigações dos sábios nos vários campos da arqueologia, da
história, da filologia, forneciam para resolver as novas questões.
Dificuldades ainda não resolvidas ou insolúveis
24. Não é, contudo, para admirar se não se venceram nem resolveram já
todas as dificuldades, mas há ainda hoje graves questões que não pouco agitam
os espíritos dos católicos. Não é caso para desanimar; basta refletir que nos
estudos humanos sucede como nas coisas naturais: que crescem pouco a pouco e
não se colhe fruto senão depois de muito trabalho. Assim precisamente sucedeu
que a muitas questões controversas, não resolvidas e indecisas nos tempos
passados, só nos nossos dias com o progresso dos estudos se encontrou
felizmente solução. Pode-se, pois, esperar que também as que hoje nos parecem
sumamente complicadas e dificílimas, com uma constante aplicação virão a ser um
dia plenamente dilucidadas. E se a desejada solução tardar muito, de modo que
não possamos nós ver, mas esteja reservado aos vindouros o feliz resultado, não
é isso razão para ninguém se lamentar, porque deve valer também para nós o que
ao seu tempo advertiam os Padres e nomeadamente santo Agostinho:(33) ter Deus semeado de
dificuldades os Livros Santos por ele inspirados, para nos estimular a lêlos e
perscrutá-los com maior aplicação e para que, conhecendo por experiência o
limitado da nossa inteligência, tivéssemos um salutar exercício de humildade.
Não haveria, portanto, razão de nos admirarmos, se a uma ou outra questão não
se chegasse nunca a achar resposta plenamente satisfatória, porque se trata de
matérias obscuras e demasiado remotas do nosso tempo e da nossa experiência; e
porque também a exegese, como as outras disciplinas mais importantes, pode ter
os seus segredos inacessíveis à nossa mente e que nenhum esforço conseguirá
penetrar.
A interpretação da Igreja e o progresso da exegese
25. Este estado de coisas não é motivo para que o intérprete católico,
animado de amor efetivo e forte para com a sua ciência, e sinceramente dedicado
à santa madre Igreja, deixe de arcar uma e outra vez com as questões difíceis
até hoje insolúveis, não só para rebater as objeções dos adversários, mas
também para ver se encontra uma solução positiva e sólida, em harmonia com a
doutrina tradicional da Igreja, especialmente com a da inerrância da Sagrada
Escritura, e que satisfaça convenientemente às conclusões certas das ciências
profanas. E todos os demais filhos da Igreja lembrem-se que devem julgar não só
com justiça, mas, com a maior caridade as fadigas desses valorosos operários da
vinha do Senhor; guardando-se daquele zelo pouco prudente, que crê dever atacar
ou declarar suspeita qualquer novidade unicamente pelo fato de o ser. Tenham
presente, sobretudo, que nas diretrizes e leis dadas pela Igreja se trata da
doutrina relativa à fé e aos costumes; e que entre as muitas coisas que se lêem
nos Livros Santos legais, históricos, sapienciais e proféticos, poucas são
aquelas cujo sentido tenha sido declarado pela autoridade da Igreja, nem são
mais numerosas aquelas das quais tenhamos a sentença unânime dos Padres. Restam
pois muitas e muito importantes em cuja discussão e explicação se pode e deve
exercitar livremente o engenho e perspicácia dos intérpretes católicos, para
que cada um pela sua parte contribua para a comum utilidade, para o progresso
das ciências sagradas, e para a defesa e honra da Igreja. Essa verdadeira
liberdade dos filhos de Deus, que se atém fielmente à doutrina da Igreja e
acolhe e aproveita com gratidão, como dom de Deus, as conquistas da ciência
profana, quando favorecida e confortada pela boa vontade de todos, é a condição
e a fonte de todo o fruto verdadeiro e de todo o sólido progresso na ciência
católica, como egregiamente adverte nosso predecessor de feliz memória, Leão
XIII, onde diz: "Se não se salva a concórdia dos espíritos, e não se mantêm
firmemente os princípios, não se podem esperar grandes progressos dos vários
estudos que muitos façam nesta disciplina".(34)
6. Uso da Sagrada Escritura na instrução dos fiéis
Vários modos de usar da Escritura no sagrado ministério
26. Considerando as imensas fadigas abraçadas pela exegese católica
durante quase dois mil anos, para que a palavra de Deus, comunicada aos homens
nas Sagradas Letras, se compreenda cada dia mais perfeitamente e mais
ardentemente se ame, surge espontânea a convicção de que os fiéis e
particularmente os sacerdotes têm o grave dever de aproveitar larga e
santamente aquele tesouro acumulado durante tantos séculos pelos maiores
talentos. Deus não deu aos homens os Livros Santos para satisfazer a sua
curiosidade, ou para lhes fornecer matéria de estudo e investigação, mas, como
adverte o Apóstolo, para que estes divinos oráculos nos pudessem "instruir
para a salvação pela fé em Jesus Cristo" e para que "seja perfeito o
homem de Deus, bem armado para toda a obra boa".(35) Portanto os
sacerdotes que por oficio devem procurar a eterna salvação dos fiéis, depois de
terem estudado diligentemente as sagradas páginas, e de as terem assimilado com
a oração e meditação, distribuam com o devido zelo nos sermões, homilias e
práticas as celestes riquezas da divina palavra; confirmem a doutrina cristã
com sentenças dos Livros Santos, ilustrem-na com os preclaros exemplos da
história sagrada, nomeadamente do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; e
tudo isto, evitando diligente e escrupulosamente as acomodações arbitrárias e
estiradas, verdadeiro abuso e não uso da divina Palavra, - exponham-no com tal
facúndia e clareza, que os fiéis não só se movam e afervorem a melhorar a
própria vida, mas concebam suma veneração para com a Sagrada Escritura. A mesma
veneração procurem os sagrados pastores instilar e aperfeiçoar cada vez mais
nos fiéis comados ao seu zelo pastoral, fomentando todas as empresas de homens
apostólicos que louvavelmente se esforçam por excitar e fomentar entre os
católicos o conhecimento e amor dos Livros Santos. Favoreçam pois e auxiliem as
associações que têm por fim difundir entre os fiéis exemplares da Sagrada
Escritura, particularmente dos Evangelhos, e procurar que nas famílias cristãs
se leiam regularmente todos os dias com piedade e devoção; recomendem
eficazmente com palavra e exemplo, onde o consente a Liturgia, a Sagrada
Escritura traduzida nas línguas modernas com a aprovação da autoridade
eclesiástica; façam eles próprios conferências ou lições públicas de assuntos
bíblicos, ou encarreguem de as fazer a outros oradores bem versados na matéria.
As revistas que com tanto louvor e fruto se publicam nas várias partes do mundo
para versar cientificamente as questões bíblicas, para adaptar os resultados
daquelas investigações ao sagrado ministério e ao espiritual aproveitamento dos
fiéis, procurem todos os ordinários, quanto lhes for possível, ampará-las e
difundi-las nas diversas classes dos seus rebanhos. E persuadam-se que tudo
isto e o mais que um zelo apostólico e um sincero amor da divina Palavra saberá
encontrar para obter tão sublime fim, será para eles um auxílio eficaz na cura
das almas.
Ensino da Sagrada Escritura nos seminários
27. Mas quem não vê que tudo isto não podem os sacerdotes realizá-lo
devidamente, se eles próprios não beberam, durante a vida dos seminários, um
prático e perene amor à Sagrada Escritura. Por isso os bispos, pelo cuidado
paterno dos seminários que lhes incumbe, velem atentamente porque também neste
ponto nada se omita de quanto pode concorrer para a consecução do mesmo fim. Os
professores de Sagrada Escritura, nos seminários, dêem todo o curso bíblico de
tal modo que infundam nos jovens destinados ao sacerdócio e ao sagrado
ministério da divina palavra aquele conhecimento e amor das Sagradas Escrituras
sem o qual vão é esperar copiosos frutos de apostolado. Portanto, na exegese
façam sobressair principalmente o conteúdo teológico, evitando as discussões
supérfluas, e omitindo tudo o que serve mais a apascentar a curiosidade do que
a fomentar a verdadeira ciência e a sólida piedade; exponham tão solidamente o
sentido literal e especialmente o teológico, declarem-no com tal maestria,
inculquem-no com tal calor, que de algum modo se verifique nos seus alunos o
que sucedeu aos discípulos de Emaús, os quais ouvindo as palavras do divino
Mestre exclamaram: "Não sentíamos nós o coração o arder, enquanto ele nos
explicava as Escrituras?"(36) Sejam assim as
divinas Escrituras para os futuros sacerdotes da Igreja fonte pura e perene da
própria vida espiritual, alimento e alma do ofício da pregação que os espera.
Se os professores desta importantíssima matéria, nos seminários, conseguirem
esse resultado, alegrem-se e convençam-se de que contribuíram muito para a
salvação das almas, para o progresso da religião católica, para a honra e
glória de Deus e realizaram uma obra eminentemente apostólica.
Jesus Cristo, salvador da humanidade, centro da Escritura
28. Tudo o que temos dito, veneráveis irmãos e amados filhos, se vale
para todos os tempos, muito mais necessário é nos lastimosos tempos que
atravessamos, quando quase todos os povos e nações se vêem submergidos num mar
de calamidades, quando uma guerra horrível acumula ruínas sobre ruínas,
carnificinas sobre carnificinas, quando com o atear de ódios implacáveis entre
os povos vemos com imensa dor extinto em muitos todo o sentimento não só de
moderação e caridade cristã, mas de simples humanidade. A essas feridas mortais
do consórcio humano quem pode dar remédio senão Aquele a quem o príncipe dos
apóstolos, cheio de amor e confiança, dirigia aquelas palavras: "Senhor, a
quem havemos de ir? Tu tens palavras de vida eterna".(37) A esse
misericordiosíssimo Redentor nosso devemos, pois, com todas as forças,
reconduzir todos os homens. Ele é o divino consolador dos aflitos; ele que
ensina a todos, tanto às autoridades como aos súditos, a verdadeira honradez, a
incorrupta justiça, e a generosa caridade. Ele enfim, e somente ele, que pode
ser sólido fundamento e esteio seguro de paz e tranqüilidade, pois que
"ninguém pode lançar outro fundamento além daquele que está já lançado, e
que é Cristo Jesus". (38) Deste autor da
salvação, Cristo, tanto será nos homens mais perfeito o conhecimento, tanto
mais intenso o amor, tanto mais fiél a imitação, quanto maior for o entusiasmo
com que se dêem ao conhecimento e à meditação das Sagradas Escrituras,
especialmente do Novo Testamento. Pois como diz o Estridonense: "a
ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo";(39)e "se há coisa
neste mundo que sustenha o sábio e o convença a permanecer de ânimo sereno em
meio das tribulações e tempestades do mundo, penso que é em primeiro lugar a
meditação e ciência das Escrituras".(40) Delas os cansados e
acabrunhados haurirão verdadeiras consolações e força divina para sofrer e
suportar corn paciência as adversidades e desventuras; delas, dos santos
Evangelhos, a todos se mostra Cristo sumo e perfeito exemplar de justiça, de
caridade e de misericórdia; e para todo o gênero humano jorram as fontes da
divina graça, sem a qual, quando desprezada e descurada, nem os povos nem os
regedores dos povos poderão jamais obter ou consolidar a tranqüilidade do
estado nem a concórdia dos espíritos; delas, enfim, aprenderão todos a Cristo,
"que é cabeça de todo o principado e potestade"(41) e que "por
Deus foi feito nossa sapiência, justiça, santificação e redenção".(42)
CONCLUSÃO
EXORTAÇÃO A QUANTOS CULTIVAM OS ESTUDOS
BÍBLICOS
29. Expostas estas considerações e recomendações relativas à adaptação
dos estudos da Sagrada Escritura às necessidades atuais, só resta, veneráveis
irmãos e amados filhos, que a quantos cultivam os estudos bíblicos e, como
filhos devotos da Igreja, seguem fielmente os seus ensinamentos e diretrizes,
com paterno afeto façamos as nossas congratulações por terem sido chamados a
múnus tão sublime, e os exortemos e animemos a prosseguir com toda a diligência
e esmero e cada dia com novas energias a obra felizmente começada. Sublime
múnus dizemos: pois que coisa mais sublime do que investigar, explicar, expor
aos fiéis, defender dos infiéis a própria palavra de Deus, por inspiração do
Espírito Santo, dada aos homens? Sustenta-se com este alimento espiritual e
nutre-se a alma do mesmo intérprete "avivando a fé, consolando a
esperança, acendendo a caridade".(43) "Viver em meio
dessas coisas, meditá-las, não saber mais nada, nem mais nada procurar, não vos
parece que é já, estando ainda na terra, morar no céu?"(44) Apascentem-se
também com esse mesmo alimento as almas dos féis, para dele haurirem
conhecimento e amor de Deus, aproveitamento e felicidade espiritual. Deêm-se,
pois, com todo o empenho a esta santa ocupação os expositores da divina
palavra. "Orem para entender".(45) Trabalhem para
penetrar cada vez mais profundamente nos segredos das Sagradas Escrituras;
depois ensinando e pregando franqueiem também aos demais os tesouros da divina
palavra. O que nos séculos passados realizaram com grande fruto aqueles
ilustres intérpretes da Sagrada Escritura, procurem emulá-lo os de hoje segundo
a própria capacidade; de modo que, como no passado, assim também no presente
tenha a Igreja doutores exímios na exposição das divinas Escrituras; e os
fiéis, graças a sua ação e trabalho, recebam delas toda a luz, conforto e
alegria. Nesse ofício, de certo árduo e grave, tenham também eles como sua
"consolação os Livros santos"(46) e lembrem-se do
prêmio que os espera, pois que "os doutos brilharão como o esplendor do
firmamento e os que ensinam a muitos a justiça como estrelas por toda a
eternidade".(47)
30. Entretanto - enquanto a todos os filhos da Igreja, nomeadamente aos
professores de Sagrada Escritura, ao clero em formação, e aos oradores sagrados
ardentemente desejamos que meditando de contínuo a palavra de Deus provem quão
bom e suave é o Espírito do Senhor, (48) - a todos e cada um
de vós, veneráveis irmãos e amados filhos, como penhor das graças celestes e
atestado da nossa paterna benevolência, concedemos, com todo o afeto no Senhor,
a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 30 dias do mês de setembro, festa
de são Jerônimo, Doutor Máximo na exposição das Sagradas Escrituras, do ano de
1943, V do nosso Pontificado.
PIO PP. XII
Notas
(*) Em 30 de setembro de
1943, por motivo do cinqüentenário da encíclica "Providentissimus Deus";
o Santo Padre Pio XII publicou a seguinte encíclica sobre os estudos bíblicos.
Por sua extensão, e pela admirável clareza com que expõe as normas que devem
ser observadas no uso da Sagrada Escritura, o importante documento adquire o
alcance de uma verdadeira Carta Magna em matéria de estudos e apostolado
bíblicos.
(8) Cf. Bento XV, enc. Spiritus Paraclitus; AAS 12(1920), p. 396; Ench. Bibl. n. 471.
(11) Carta Apost. Hierosolymae in coenobio, de 17 de set. de 1892; Leão XIII, Acta 12, pp. 239-241, v, p. 240.
(13) Carta da Pontifícia
Comissão Bíblica aos Exmos. Arcebispos e Bispos da Itália, de 20 de agosto de
1941; Acta Ap. Sedis 33(1941) pp. 465-472.
(14) Carta Apost. Scripturae Sanctae, de 23 de fev. de
1904; Pio X, Acta I, pp. 176-179; Ench. Bibl. nn.142-150; v 143-144.
(15) Cf Carta Apost. Quoniam in re biblica, de 27 de março de 1906; Pio X Acta 3, pp. 72-76;Ench. Bibl.
nn.155-173, v.155.
(16) Carta Apost. Vinea electa, de 7 de maio de 1909; Acta Ap. Sedis 1(1909), pp. 447-449;Ench. Bibl. nn. 293-306; v. 294 e 296.
(17) Cf. Motu próprio Bibliorum scientiam, de 27 de abril de 1924; Acta Ap. Sedis 16(1924), pp.180-182.
(18) Carta ao Revmo. D.
Aidano Gasquet, de 3 de dez. de 1907. Pio X, Acta 4, pp.117-119;Ench. Bibl. n. 285s.
(19) Const. Apost. Inter praecipuas,
de 15 de junho de 1933; Acta Ap. Sedis 26(1934), pp. 85-87.
(21) Encícl. Spiritus Paraclitus, de 15 de set. de
1920; Acta Ap. Sedis 12(1920), pp. 385-422; Ench. Bibl. nn. 457-508; v 457, 491, 495, 497.
(22) Cf. s. Jerônimo, Praef. in IV Evang. ad Damasum, PL 29, 526-527; s. Agostinho, De doctr. christ. II 16, PL 34, 42-43.
(28) Cf. Bento XV, Enc. Spiritus Paraclitus: Acta Ap. Sedis 12(1920), p.
390; Ench. Bibl. n. 461.
(32) Cf. v, gr. In Gen. I, 4: PG 53, 34-35; In Gen, II, 21: PG 53, 121; In Gen., III, 8: PG 53, 135; Hom. 15 in
Ioan., ad I,18: PG 59, 95s.
(33) Cf. s. Agostinho, Epist . 149 ad
Paulinum, n. 34: PL 33, 644; De diversis
quaestionibus, q. 53, n. 2: PL 40; 36; Enarr. in Ps.146, n.12: PL 37,1907.
(34) Cart. Apost. Vigilantiae; Leão XIII, Acta 22, p. 237; Ench. Bibl. n.136.