Maria é a Arca da Nova Aliança

Por Carlos Caso-Rosendi
Tradução de Carlos Martins Nabeto

O Espírito Santo dá significado às Escrituras. Isto ocorre de tal maneira que nós nunca seremos capazes de conceber a profundidade da sabedoria contida na Bíblia. Com os olhos da fé, podemos enxergar a múltipla variedade de verdades contidas na Escritura, todas em conformidade umas com as outras, todas projetadas para revelar o inescrutável mistério de Deus. Foi Deus quem ordenou Moisés a construir a Arca da Aliança milhares de anos antes de Maria de Nazaré nascer. Deus forneceu a Moisés instruções bem precisas de como construir a Arca. As Escrituras mostram que a Arca da Aliança era uma representação profética de Nossa Senhora. 

Êxodo 25, 10-22 — "Farás uma arca de madeira de acácia com dois côvados e meio de comprimento, um côvado e meio de largura e um côvado e meio de altura. Tu a cobrirás de ouro puro por dentro e por fora, e farás sobre ela uma moldura de ouro ao redor. Fundirás para ela quatro argolas de ouro, que porás nos quatro cantos inferiores da arca. Farás também varais de madeira de acácia, e os cobrirás de ouro. E enfiarás os varais nas argolas aos lados da arca, para ser carregada por meio deles. Os varais ficarão nas argolas da arca, não serão tirados dela. E colocarás na arca o Testemunho que te darei. Farás também um propiciatório de ouro puro, com dois côvados e meio de comprimento e um côvado e meio de largura. Farás dois querubins de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório; faze-me um dos querubins numa extremidade e o outro na outra; farás os querubins formando um só corpo com o propiciatório, nas duas extremidades. Os querubins terão as asas estendidas para cima e protegerão o propiciatório com suas asas, um voltado para o outro. As faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. Porás o propiciatório em cima da arca; e dentro dela porás o Testemunho que te darei. Ali virei a ti, e, de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins que estão sobre a arca do Testemunho, falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel".

A Arca foi projetada para que quatro ou mais sacerdotes levitas pudessem transportá-la sem que realmente tocassem este sagrado objeto de modo direto. Deus prometeu a Moisés que Ele viria à Arca, dizendo: "Ali virei a ti". Da mesma maneira, na Encarnação, o Filho do Homem esteve presente no ventre de Maria, que também estava destinado a ser imaculado e intocável, tal como a Arca dos tempos antigos. 

Em Lucas 1, 36-37 o Anjo emprega as palavras "te cobrirá" (do grego "episkiasei", "επελευσεται") para descrever como o Espírito Santo se aproximaria de Maria. Esta palavra é a mesma que é usada em Êxodo para descrever os "querubins protetores", que estendiam suas asas sobre o propiciatório da arca, e também em Êxodo 40, 34-35. 

A Arca da Aliança continha objetos que representavam profeticamente Jesus, o Messias. A antiga Arca foi planejada para conter vários objetos sagrados: as tábuas da Lei nas quais o dedo de Deus gravara os Dez Mandamentos; um vaso de ouro com o "maná", o pão do céu miraculosamente preservado fresco; e o báculo sacerdotal de Aarão, no qual brotou botões e flores, além de frutificar amêndoas maduras em uma só noite, demonstrando fielmente a eleição divina de Aarão para o sumo sacerdócio. Cada um desses objetos aponta para uma qualidade de Jesus Cristo. As tábuas de pedra são os Mandamentos dados por Deus a Israel; de todos os homens, somente Jesus cumpria perfeitamente esses Mandamentos (1João 3, 5-6). O maná é o "pão que veio do céu" (João 6, 22-65). O báculo de Aarão é um símbolo do eterno sacerdócio de Cristo (Hebreus 7, 23-24). Estes três objetos ficavam dentro da Arca e todos eles apontavam profeticamente para Jesus. Nossa Senhora continha em si não uma mera representação das qualidades de Jesus, mas o próprio Jesus. É por essa razão que ela é considerada a Arca da Nova Aliança.

2 Samuel 6, 9-12 — "Nesse dia, Davi teve medo do Senhor e disse: 'Como virá a Arca do Senhor para ficar na minha casa?' Por isso Davi não quis conservar a Arca do Senhor consigo na cidade de Davi, e a levou para a casa de Obed-Edom de Gat. A Arca do Senhor ficou três meses na casa de Obed-Edom de Gat, e o Senhor abençoou a Obed-Edom e a toda a sua família. Contou-se ao rei Davi que o Senhor tinha abençoado a casa de Obed-Edom e tudo o que lhe pertencia, por causa da Arca de Deus. Então Davi foi e trouxe a Arca de Deus da casa de Obed-Edom para a cidade de Davi com grande alegria".

Esta parte do Antigo Testamento apresenta diversos paralelos entre a Arca da Aliança e Maria, a mãe de Jesus. Primeiro, Davi formula quase que a mesma pergunta que Isabel faz quando Maria vem visitá-la: "Como pode ser que a mãe do meu Senhor venha me visitar?". 

Substituindo a palavra "Arca" na frase de Davi, encontramos a mesma frase exclamada por Isabel quando ela viu que Maria vinha visitá-la. Segundo, a Arca permanece na casa de Obed-Edom por três meses, do mesmo modo que Maria, que permanece na casa de Isabel por três meses (Lucas 1, 56). O bebê no ventre de Isabel, filho de um levita, salta de alegria diante de Maria, assim como Davi dança alegremente diante da Arca, vestido como um levita.

Apocalipse 11, 19-12, 6 —"O templo de Deus que está no céu se abriu, e apareceu no templo a Arca da sua aliança. Houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de granizo. Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres, e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias".

O Apocalipse de João, também conhecido como “A Revelação”, foi redigido por volta do fim do século I d.C. Nessa época, a Arca da Aliança já estava perdida há mais de 600 anos. Conforme a tradição judaica, foi o profeta Jeremias quem escondeu a Arca, para evitar que caísse nas mãos do exército babilônio (2Macabeus 2, 5-8). Em sua visão, João vê novamente a Arca "no céu". A cena da Arca parece terminar abruptamente para apresentar ao leitor um "sinal" ou "portento": a Mulher vestida com o sol. Em Isaías 7, 14 é profetizado: "Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: Eis que a virgem concebeu e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel". A imagem também possui uma forte conexão com Gálatas 3, 27, onde o apóstolo São Paulo exorta a Igreja a "vestir-se de Cristo", o qual também é comparado na Escritura com o sol ou a "grande luz" (Mateus 4, 16). A Mulher, na visão, encontra-se perfeitamente vestida com a luz de Cristo e está coroada com doze estrelas, que são os doze apóstolos de Cristo (cfr. com o uso do número doze em Apocalipse 21, 10-14). Na verdade, a cena que descreve a Arca não termina abruptamente; ela certamente continua, indicando que a Arca e a Mulher celeste são a mesma coisa e estão intimamente associadas na visão de João. Outros sinais que apontam para esta Mulher como sendo uma imagem de Maria: ela está grávida e seu filho governará as nações (Cristo); a lua sob os seus pés é a Igreja — sob a Rainha dos Céus, a Igreja militante reflete imperfeitamente a luz de Cristo em contraste com a Igreja triunfante nos céus, cuja luz é o próprio Cristo (Apocalipse 21, 23). Em acréscimo, ela é a inimiga do Dragão (Apocalipse 12, 17), o qual em Apocalipse 20, 2 é identificado como Satanás, "a antiga Serpente", que lutará e perseguirá a descendência da mulher (cfr. Gênesis 3, 14-15).

No Apocalipse de João a Arca da Aliança é uma mulher, a mãe do Messias. De maneira semelhante, o Apocalipse de João nos diz posteriormente que a Noiva do Cordeiro é também a Cidade de Deus, a Igreja triunfante nos céus.