Uma pequena nuvem sobre o mar
Pe. Francisco de S. Maria
Quem tem a Senhora, tem tudo. Pelo contrário, quem não tem a Senhora,
ainda que tenha tudo, nada tem. A um discípulo seu mandou o Profeta e Patriarca
Elias que subisse ao alto de um monte (o monte Carmelo), donde se descobria o mar,
e que voltasse dizendo-lhe o que vira. (...)
Obedeceu o discípulo, e voltou dizendo que nada vira. (...) O mesmo repetiu por seis vezes, subindo outras tantas ao
monte por mandado de seu mestre. Pois como assim? Este homem, por ventura, ou
por desgraça, era cego? Não, pois tinha vista e os olhos abertos, e na luz do
meio dia, como diz que não vê cousa alguma? Não vê o Céu, não vê o Sol, não vê
o mar, não vê a terra, não vê os montes, não vê os vales, não vê os campos, não
vê os brutos, não vê os homens? Pois se tudo isto, e muito mais vê, e esta
vendo, como diz que nada vê? Sabeis porquê?
Porque até agora não viu a Maria
Santíssima e, enquanto não vê a Maria Santíssima, ainda que tudo veja, nada vê.
Sobe sétima vez ao monte, e desta vez volta dizendo que via uma pequena nuvem
que subia do mar. (...) E o que
significava aquela nuvem? Significava e representava a Mãe de Deus. (...) Confrontai agora este caso do discípulo de
Elias com o referido e ponderado dos Discípulos de Cristo Senhor Nosso, e
admirai a proporção e a consonância de ambos. Os Discípulos de Cristo nada
levaram naquela jornada (conferir Mc 6,8), e este nada foi tudo. O
discípulo de Elias via tudo, e este tudo era nada. Os discípulos nada levaram,
e este nada era tudo, porque como levaram a vara, não lhe faltou coisa alguma,
tudo tiveram: Nunquid aliquid
defuit vobis? Nihil. O discípulo de Elias via tudo, e este tudo era
nada, porque não via a nuvem e, enquanto não via nuvem, nada via. (...) Ó soberana nuvem! Ó Divina vara! Que
importa que o rico e poderoso tenha tudo? Se não merecer pelas suas obras, nem
pela sua devoção o vosso amparo e patrocínio, esse tudo sem vós, será nada. Que
importa que o pobre, que o enfermo, que o tolhido, que o desamparado se veja sem
nada? Se merecer o vosso amparo com ele, esse nada será tudo.(...)
Grande bem causou ao povo israelítico aquela pequena nuvem tão esperada
do profeta Elias. Padecia aquele povo as últimas calamidades desta vida e por
meio daquela nuvem se viu cheio de todas as felicidades. E porque? Porque
aquela nuvem era uma figura ou imagem de Maria Santíssima. (...) Mas que mistério representava aquela nuvem
a Senhora? Digo que não representava aquela nuvem a Senhora no mistério da
Encarnação, nem em outro algum mistério, senão no Mistério da Assunção. Que
melhor prova que o mesmo texto? Diz o texto que aquela nuvem subia do mar (...). O mar é este mundo, a nuvem é a Senhora,
e que outra coisa é a Senhora subindo deste mundo, senão a Senhora no mistério
deste dia (da
Assunção). Conste pois aos homens que a Senhora no mistério deste
dia (da
Assunção), mais que em outro algum mistério, se ostenta liberal* e
grandiosa, e nos converte as misérias em felicidades e as desgraças em ditas**.
*igual a generosa
**igual a sucessos, felicidades
Fonte: textos extraídos de Sermões
do Rmo. P.M. Francisco de S. Maria, Tomo Quarto, Portugal – ano de 1738
(adaptado para o português brasileiro), disponibilizado aqui
Título da matéria, trechos entre parênteses, indicações com asterisco e adaptação para o português do Brasil: José Renato Leal
Título da matéria, trechos entre parênteses, indicações com asterisco e adaptação para o português do Brasil: José Renato Leal