Assunção de Maria aos Céus


Por Carlos Caso-Rosendi / Tradução: Carlos Martins Nabeto

Quando pessoas mal informadas
questionam o dogma da Assunção de Maria aos céus, elas crêem que inexistem evidências bíblicas desse evento. Na Bíblia existe um relato da ascensão de Jesus, mas não menciona a assunção da Virgem Maria. Como a Igreja sabe, então, que Maria foi assunta aos céus?

Atos 1, 1-12 — "Compus meu primeiro relato, ó Teófilo, a respeito de todas as coisas que Jesus fez e ensinou desde o início, até o dia em que foi arrebatado, depois de ter dado instruções aos Apóstolos que escolhera sob a ação do Espírito Santo. Ainda a eles, apresentou-se vivo depois de sua paixão, com muitas provas incontestáveis:
durante quarenta dias apareceu-lhes e lhes falou do que concerne ao reino de Deus. Então, no decurso de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai, 'a qual' — disse ele — 'ouvistes de minha boca: pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias'. Estando, pois, reunidos, eles assim o interrogaram: 'Senhor, é agora o tempo em que irás restaurar a realeza em Israel?' E ele respondeu-lhes: 'Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade. Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria, e até os confins da terra'. Dito isto, foi elevado à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos. Estando a olhar atentamente para o céu, enquanto ele se ia, dois homens vestidos de branco encontraram-se junto deles e lhes disseram: 'Homens da Galiléia, por que estais aí a olhar para o céu? Este Jesus, que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim virá, do mesmo modo como o vistes partir para o céu'. Então, do monte chamado das Oliveiras, voltaram a Jerusalém. A distância é pequena: a de uma caminhada de sábado".
Lendo esta passagem cuidadosamente, os fiéis cristãos verificam que Jesus ascendeu aos céus na presença de aproximadamente 500 pessoas. E imediatamente a seguir, apareceram dois anjos. As tradições locais até indicam o local onde este fato aconteceu.
No decorrer da História até os nossos dias, têm surgido muitos questionamentos acerca da veracidade da ressurreição de Jesus. Os céticos sempre propuseram explicações alternativas. A mais comum e antiga é a de que o corpo de Jesus foi escondido por seus discípulos, "falsificando" assim a ressurreição e fazendo com que o Impostor viesse a ser considerado o Messias (Mateus 27, 62-66). Mas, a princípio, alguns discípulos de Jesus que encontraram o sepulcro vazio pensaram que seus inimigos tinham subtraído o corpo do Senhor (João 20, 1-2).
A evidência histórica que temos hoje mostra claramente que o pequeno grupo de crentes judeus saíram a evangelizar o mundo, mesmo que a custo de suas próprias vidas. Seria inviável falsificar uma ressurreição para iniciar uma falsa religião. Todos os Apóstolos, com exceção de um, morreram como mártires. É difícil acreditar que tais pessoas pudessem chegar tão longe, suportando terríveis torturas e a morte, apenas para perpetuar uma fraude. Só existe um jeito de explicar os eventos que se seguiram à morte de Cristo: Ele ressuscitou! Posteriormente, seus discípulos levaram o fogo do Evangelho de Jesus para todas as partes do mundo, porque eles tinham a certeza inabalável de que o seu Senhor havia ressuscitado.
É assim que explicamos a ressurreição de Jesus; mas não temos um relato do que aconteceu com Maria. Na verdade, temos um registro indireto: o corpo de Maria não está em lugar algum que possa ser encontrado. Não temos, portanto, apenas um sepulcro vazio, mas dois!
É de pleno conhecimento dos historiadores em geral que os cristãos tinham especial cuidado com as relíquias dos santos. Partes do corpo, ossos, cabelos e outros pertences dos santos martirizados têm sido, por séculos, cuidadosamente preservados e custodiados. Conhecemos a maioria dos lugares onde os Apóstolos foram sepultados. Conhecemos bem, ainda, os sepulcros de alguns mártires dos séculos I e II.
Seria possível que, de alguma forma, os cristãos primitivos negligenciassem um simples registro sobre o local onde Maria teria sido sepultada? Novamente estamos diante da evidência indireta de que Maria teve um destino diverso dos demais santos do Cristianismo primitivo.
Outras assunções ao céu são registradas na Bíblia. Henoc e Elias foram assuntos ao céu (Hebreus 11, 5; 2Reis 2, 11). Em Mateus 27, 52-53 encontramos um relato de que os corpos dos santos saíram de seus sepulcros logo após a morte de Cristo. Essas primeiras ressurreições prefiguraram a ressurreição de todos aqueles que, até hoje, morreram fiéis à Nova Aliança em Cristo. A assunção de Maria nada mais é do que crer fielmente que Deus lhe concedeu a graça de ser ressuscitada, da mesma forma como Ele fizera com muitos no passado. A Bíblia promete isso até mesmo a nós, pecadores!
Romanos 8, 10-17 — "Se, porém, Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça. E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais, mediante o seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, somos devedores não à carne para vivermos segundo a carne. Pois se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis. Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Com efeito, não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: 'Abba! Pai!' O próprio Espírito se une ao vosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E se somos filhos, somos também herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, pois sofremos com ele para também com ele sermos glorificados".
Nesta passagem, o apóstolo São Paulo promete a nós, pecadores, que aqueles que sofrem com Cristo serão glorificados com Ele. Não seria, pois, de se estranhar que a Mulher que aceitou sofrer com Cristo — a Mãe das Dores — não pudesse receber um especial tratamento da parte de Deus? (cf. Lucas 2, 34-35). É perfeitamente claro que aquela que consagrou a sua vida unicamente para servir o propósito de Deus e ser a Mãe do Messias recebesse um tratamento especial, assim como muitos outros santos homens e mulheres de Deus nos tempos passados.
1Coríntios 3, 7-14 — "Assim, pois, aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa tão somente Deus, que dá o crescimento. Aquele que planta e aquele que rega são iguais entre si; mas cada um receberá seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho. Nós somos cooperadores de Deus, e vós sois a seara de Deus, o edifício de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, como bom arquiteto, lancei o fundamento; outro constrói por cima. Mas cada um veja como constrói. Quanto ao fundamento, ninguém pode colocar outro diverso do que foi posto: Jesus Cristo. Se alguém sobre esse fundamento constrói com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, a obra de cada um será posta em evidência. O Dia torna-la-á conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa".
Se nós concordamos com o ensinamento de São Paulo, devemos então considerar o lugar de Maria na História da Salvação para concluirmos que sua recompensa tinha que ser tão única quanto tão única foi sua crucial missão.
Muitos confundem o Novo Testamento com uma crônica que deveria incluir tudo o que aconteceu com a Igreja. Tal conceito é equivocado. Por exemplo, o Evangelho de São João atesta que nem todos os feitos de Jesus foram incluídos nos Evangelhos (João 21, 25) e muitos crêem que há indícios de uma "carta de lágrimas", que foi perdida, escrita por São Paulo aos coríntios (cf. 2Coríntios 2, 4). Não seria razoável concluir que Maria não foi assunta ao céu pelo simples fato de o Novo Testamento não indicá-lo. Devemos recordar que nem toda doutrina cristã se encontra explicitamente na Bíblia.
A assunção de Maria contradiz as Sagradas Escrituras? É lógico que não! Tal dogma é realmente necessário para confirmar algumas profecias que deveriam ser cumpridas.
Se cremos que Jesus ressuscitou, devemos também crer que toda autoridade lhe foi dada nos Céus e na Terra (Mateus 28, 16-20). Jesus é o Messias, glorificado e sentado à direita de Deus Pai. Ele não concederia essa honra e glória a Maria? Negligenciaria honrar sua Mãe, Maria, violando assim o Quarto Mandamento? (cf. Gálatas 4, 4). É impossível concluir que Jesus não amasse sua Mãe o suficiente para preservá-la da corrupção e da morte (cf. Salmos 16, 10). Mesmo um homem pecador não permitiria que a sua própria mãe apodrecesse e se corrompesse, caso tivesse o poder para evitá-lo. Quanto mais faria o Filho de Deus com a sua própria Mãe!
É por isso que dizemos que as Sagradas Escrituras necessitam do dogma da Assunção de Maria. Para Jesus ser o Messias, Ele tinha que honrar sua Mãe perfeitamente, na sua máxima capacidade. Se Maria tivesse que sofrer o fim comum de todos os mortais, então Jesus teria falhado ao cumprir a Lei Mosaica. Isto é simplesmente inconcebível. Ele não negaria a Maria aquilo que Deus havia concedido a Henoc, Elias e outros santos homens e mulheres dos tempos antigos (Gênesis 5, 24; Hebreus 11, 5; 2Reis 2, 11-12; 1Macabeus 2, 50-64).
Portanto, podemos concluir que é biblicamente assegurado que o corpo de Maria não conheceu a corrupção e foi assunto aos Céus. Mas o que aconteceu com ela uma vez tendo chegado aos Céus?
Em outros capítulos deste livro, explicamos como Maria foi prefigurada na "gebirah", a Rainha Mãe de Israel, que sentava no trono do lado do Rei. É mais do que óbvio que Jesus é o eterno Rei de Israel e Maria a eterna Rainha de Israel (cf. Capítulo "Maria é Sempre Virgem"). Sabemos que ela foi coroada porque o Apóstolo São Paulo ensina que todos aqueles que vivem uma vida reta em Cristo recebem a coroa da glória nos Céus. São Pedro nos diz que, uma vez manifesto o Bom Pastor, receberemos a nossa coroa (1Pedro 5, 4). O apóstolo São Tiago ensina o mesmo em Tiago 1, 12. O próprio Jesus ensinou isso (Apocalipse 2, 10).
Com todos esses testemunhos de Jesus e dos Apóstolos, poderíamos duvidar que a Mulher vista no céu por São João seria outra pessoa e não Maria?
Apocalipse 12, 1-5 — "Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono".
Esta visão confirma para todos os crentes a coroação de Maria. Ela também é apresentada dando à luz a uma criança que reinará sobre todas as nações: o Messias, o Cristo que é conduzido até Deus e o seu Trono. Em Apocalipse 12, 13, nos é dito que ela tem outros descendentes. Seus filhos espirituais formam a Igreja daqueles "que observam os mandamentos de Deus e mantêm o Testemunho de Jesus". Eis porque Maria não é apenas a Glória do seu povo Israel; ela é, ainda, a Rainha da Igreja e a Rainha do Céu, pois seu Filho é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis (Apocalipse 5, 12; 19, 16; Filipenses 2, 9-11).