A heresia das obras
Os homens chamados à honra de colaborar com o Salvador em transmitir às almas essa vida divina devem, portanto, considerar-se como modestos canais encarregados de haurir tal vida nessa fonte única.
Grosseiro erro teológico deixaria transparecer um homem apostólico, se desconhecesse estes princípios e julgasse que podia produzir o mínimo vestígio de vida sobrenatural sem ir totalmente buscá-la em Jesus.
Desordem menor, mas também insuportável aos olhos de Deus, seria se o apóstolo, reconhecendo embora que o Redentor é a causa primordial de toda a vida divina, na sua ação olvidasse esta verdade e, obcecado por louca presunção injuriosa a Jesus Cristo, apenas contasse com as suas próprias forças.
(...) Ora, o proceder praticamente, ao ocupar-se de obras, como se Jesus não fosse o único princípio da vida delas, é qualificado pelo cardeal Mermillod de "Heresia das Obras". Com esta expressão, estigmatiza ele a aberração de um apóstolo que, esquecendo-se do seu papel secundário e subordinado, unicamente esperasse o bom êxito do seu apostolado, da sua atividade pessoal e dos seus talentos.
(...) Salvo em tudo o que opera sobre as almas ex opere operato, Deus deve ao Redentor o subtrair ao apóstolo, cheio de arrogância, as suas melhores bênçãos para reservá-las ao ramo que humildemente reconhece que somente pode haurir a sua seiva no tronco divino. De outra sorte, se abençoasse com resultados profundos e duradouros uma atividade envenenada por esse vírus a que chamamos heresia das obras, Deus dava mostras de animar essa desordem e permitir seu contágio.
*Eu vim para eles terem a vida (Jo 10). Nele estava a vida (Jo 4). Eu sou a vida (Jo 14, 6).
D. Jean-Baptiste Chautard
A Alma de Todo Apostolado (trecho)