Na miséria dos pecados


Mariana Maia, aspirante da CM.

"Ele levanta do pó o indigente e tira o pobre da imundície, para, entre os príncipes, fazê-lo sentar, junto dos grandes de seu povo."

(Sl 112,7-8)

Deus tira-nos do lixo de nossos pecados para nos fazer sentar com os grandes, na comunhão dos santos. Quem se confessa com certa frequência e medita sobre o horror de suas faltas e a misericórdia divina tem noção da própria incapacidade de fazer o bem, do lamaçal de que foi retirado e de como estaria pior sem a graça d'Ele.

O homem moderno tem a ilusão de ser bom sem a ajuda de Deus, da fé, de uma religião que o oriente. Em sua visão, somos cães adestrados, sem iniciativa própria; fazemos apenas por recompensa ou por temor da punição eterna. É verdade que muitos de nós se limitam a esse estágio da vida em Cristo. No entanto, a finalidade de nossa caminhada é querer Deus por Ele mesmo, como ilustra o poema de Santa Teresa de Ávila, "Não me move"¹. Os santos nos mostram que é possível.

Não satisfeito, acusa-nos de fazer o bem apenas para agradar a Deus (como se fosse pouca coisa). Eleva-se como exemplo de alguém que pode ser caridoso por si só e aponta nomes de não religiosos que realizam boas obras, alegando que não é necessário crer no Criador para isso. O juízo das almas a Deus pertence; porém, a caridade perfeita tem sua origem na fonte da bondade, o Senhor. Alguém seria capaz de suportar tanta dor, qual Cristo em Sua Paixão, para redimir aqueles que lhe são ingratos e ferem o coração repetidas vezes? Dificilmente, uma pessoa perdoa seus inimigos, sem resquícios de mágoa, como Ele o fez. Também Santo Estêvão e outros mártires seguiram esse caminho. E Santa Teresa de Calcutá, serva dos mais pobres, consoladora dos enfermos e moribundos? Um certo Hitchens, por não compreender a profundidade de seu apostolado, lançou calúnias a seu respeito², falsidades que devem ser rechaçadas por qualquer um que tenha bom senso.

"Caridade na verdade" é uma das encíclicas do Papa emérito Bento XVI, relacionando dois valores que não podem ser separados. Se nosso amor é imperfeito sem a graça de Deus, quanto mais nosso compromisso com a verdade. Só tendo o auxílio divino para proclamar e defender princípios eternos, considerados politicamente incorretos. Apenas com o dom da fortaleza, vindo do Espírito Santo, é possível não recuar e não ceder ao respeito humano (vulgo reputação), derramando o próprio sangue, se for necessário. A modernidade escandaliza-se ao saber que alguém é capaz de morrer pela fé que professa. "Não precisa tanto", dirá. Mas desvia o olhar das mortes provocadas pelos vícios, pela ganância, por relacionamentos frustrados, entre outros.

A fé verdadeira faz-nos reconhecer nossa pequenez e dependência de Deus. Sabemos onde estávamos quando Ele nos encontrou, e aonde voltaremos, se tentarmos andar com as próprias pernas, sem limites nem guia. Por que insistir na lavagem dos porcos, se o Pai nos convida para o grande banquete?

Salve Maria!

¹ http://www.paroquias.org/oracoes/?o=129

² https://ocatequista.com.br/blog/item/12200-quem-nao-gosta-de-madre-teresa-bom-sujeito-nao-e