Sacramento de união

Basílica de São Pedro

Mariana Maia, aspirante da CM.

Lendo o Catecismo, o ponto 1045 chama-me atenção quando fala dos novos céus e da nova terra, da "realização final da unidade do gênero humano, querida por Deus desde a criação e da qual a Igreja peregrina era 'como que o sacramento'". A Igreja é um sacramento, um sinal visível da unidade do povo de Deus, do povo redimido pelo sacrifício de Cristo, que responde ao Seu chamado com fé e amor.

Por isso, a importância de buscarmos a união e a harmonia entre os fiéis, de corrigirmos nossos vícios, evitarmos as intrigas, procurarmos servir ao próximo. Não significa calar-se diante dos erros, que podem custar a salvação de nosso irmão, e a nossa também, se pecamos por omissão. É exortar com misericórdia, colocando o bem do outro acima de nosso ego, da satisfação pessoal.

O ponto 1022 trata de um aspecto do juízo particular: põe nossa vida em referência a Cristo. Imagine quando nossos atos, palavras e pensamentos forem comparados aos de Jesus, e percebermos que alguns (ou muitos) deles não corresponderam aos Dele. Certamente ficaremos envergonhados. É algo que nos deve inspirar santo temor.

É verdade que, numa paróquia comum, que busca manter a cordialidade própria de uma grande família, baseada no Evangelho, sentimo-nos acolhidos, tratamos com respeito e assim somos tratados. A boa vontade dos fiéis, sejam funcionários, membros de pastorais ou frequentadores, faz-nos sentir em casa. Essa é a união desejada por Deus.

Alguns justificam seu distanciamento da Igreja ao acusarem todos lá (ou a maioria) de serem hipócritas (e depois jogam Mt 7,1 em nossa cara – bendita coerência!). Se de um lado há fiéis que dão mau testemunho, têm uma vida dupla e um comportamento que não condiz com a fé, de outro, há pessoas que não se aproximam por não quererem mudar de vida. A fé cristã leva à conversão, ao abandono do pecado, inevitavelmente, ou não está sendo vivida de forma correta.

Quando Jesus revelou ser o Pão da vida e fez o belíssimo discurso sobre a Eucaristia, alguns discípulos deixaram de segui-Lo por se escandalizarem com um ensinamento que não era facilmente compreensível. Mas poderiam ter permanecido, no espírito de humildade, para aceitar, mesmo sem entender. O Filho de Deus não mudou Sua doutrina, mas perguntou aos apóstolos: "quereis vós também retirar-vos?" (Jo 6,67). A Boa Nova está aí, a Verdade é imutável. Cristo estende-nos a mão e convida-nos a caminhar com Ele. Mas não mudará uma letra da Lei divina para nos agradar. Sabe que nossa percepção é prejudicada pela concupiscência.

Já ouvi que a Igreja deveria mudar certos pontos para não perder fiéis. Mas ela "está a serviço de Outro, serve não para si mesma, para ser um corpo forte, mas para tornar acessível o anúncio de Jesus Cristo", nas palavras do Papa Bento XVI¹. Não pode perder sua essência, desejando ser atrativa para o mundo. Deve se preocupar mais com qualidade do que com quantidade. Não que despreze esta última, pois é sua missão conquistar todos os povos para o Senhor. No entanto, perseverar na fé é responsabilidade da pessoa evangelizada, que deve contar com a graça divina, mas também fazer sua parte, pois virtude não se adquire sem esforço. No fim dos tempos, ela verá que valeu a pena. A Igreja "opressora", "intolerante", "medieval" (entre outros) é aquela que celebrará as núpcias com o Cordeiro, na felicidade eterna.

Salve Maria!

¹ https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/bento-xvi/viagens-bentoxvi/reino-unido/entrevista-de-bento-xvi-a-jornalistas-durante-voo-ao-reino-unido/