ONDE NASCEU JESUS NESTE NATAL?

Natal do Senhor

Cintilaram nas vésperas as luzes led dos edifícios da cidade, nas ruas e, com mais intensidade ainda, nas lojas de departamentos. Forte o suficiente para ofuscar até mesmo o brilho da Estrela-Guia. Difícil conceber a data casa adentro sem a árvore salpicada de neve fake com a base forrada de presentes, das luzinhas piscando com diferentes sequências, da mesa que não se vê o tampo de tão cheia, de palavras como Espírito de Natal, boas energias e vibrações.


Cada vez mais, esta geração come a ceia de prato na mão, com música alta e antes da meia noite. E bebida gelada, por favor. Muita bebida, não porque o excesso já faz parte da data, mas porque aqui é muito calor e cerveja refresca, certo? Oração antes do ataque à primeira coxa do pernil? Talvez alguma tímida e genérica por respeito aos parentes a amigos presentes que não compartilham nossa fé. Em muitas casas já se abandonou o costume. Um pequeno cenário que se desempacota no advento e se guarda no Dia de Reis por vezes é a única referência muda ao dono da festa. Lá está o pequeno menino de gesso que some na palma de uma mão repousando no pequeno bercinho de gesso ao lado da TV de 50 polegadas. Às vezes nem isso. A grande visita da noite, que inquieta adultos e crianças é a mais aguardada: Papai Noel.

Esqueceram da Sagrada Família de Nazaré, que todo ano sofre a mesma angústia por não encontrar um lar. Aquela que não encontrou acolhida em casa alguma e por isso deu Cristo à luz num estábulo, ontem repetiu a peregrinação. Mais um ano a mesma família bateu às portas das casas e nenhuma abriu. Não há mais vagas. A casa ficou pequena com tantas luzes, árvores, presentes e perus; com o som de música ruim e um falatório muito estridente para acolher recém-nascidos. Os magos não vieram adorá-lo. Onde Jesus nasceu neste Natal? Foram procurar o silencioso estábulo. No lugar deles veio em casa o velho de vermelho que certamente adorou o barulho, a agitação, as luzes, os enfeites e a gula, próprias do 'presépio' pós-moderno que não falta em casa alguma.

Ontem deixaram Cristo nascer na estrebaria enquanto se forravam de uma farta ceia. Dentro de alguns meses gritarão 'crucifica-o' com a cara suja do chocolate dos ovos de Páscoa.

Por Bruno Arena, c.m.